Adrião, sempre presente!
Adrião Isaac da Costa Filho, Dãozinho, Mozinho ou simplesmente Adrião, nos deixou hoje de madrugada.
Foi sempre um guerreiro com firme determinação ao enfrentar tempos difíceis depois de ter perdido a visão, de ter enfrentado um AVC, a diabetes, sem nunca esmorecer nem reclamar da vida, ou seja, a ternura esteve sempre presente em sua vida.
O seu jeito cativante, suas tiradas espirituosas eram marcas muito fortes de sua personalidade.
Reencontrei Adrião em Petrolina muitos anos depois de nosso período de internato em Escada, eu já Deputado Federal pela Bahia, Adrião conseguiu meu contato e me ligou, tomei um susto com a inesperada ligação. Não demoramos mais a matar as saudades, marcamos logo pra nos encontrarmos, fato que ocorreu na próxima ida à minha região.
E que belo encontro, foi em um restaurante que fica entre a cidade de Petrolina e o aeroporto. Comemos bode, tomamos cachaça e haja recordações do tempo do ginásio. Nunca mais deixei de vê-lo, sempre que estava na região, encontrava uma forma de estarmos juntos, claro, tendo sempre conosco Ivan Câmara e Laudicéia na agradável companhia. Como nenhum dos três bebem, eu dava um jeito de reunir os companheiros do PT de Juazeiro. A farra era grande e feliz.
Foi dele a ideia de fazer o primeiro grupo de zap de nossa turma de Escada. No Início ele administrava o grupo, Ivan e eu íamos prospectando mais colegas da turma e fomos aumentando o grupo, até que fizemos nosso primeiro encontro na cidade de Sanharó, no inesquecível aniversário de Augusto. Foi um momento ímpar, que reencontro maravilhoso, colegas que não se viam desde aquele tempo de internato, todos se emocionaram e vários foram às lágrimas.
Chegamos em Escada ainda muito pirrototinhos, a faixa etária variava entre os 10 anos, os casos de Simplício e Chaveiro até os 15 anos, o caso de Zé Metódio. Neste encontro educacional que a vida nos proporcionou, aprendemos as mais belas lições de amizade que se perpetuam no tempo.
A República de Ribeirão, Estreliana e Caxangá era de longe a mais numerosa, faziam parte dela Zé Carlos Sonso, César Coem, Ênio, Arara, Bicudinha, Zé Rufino, Ivanildo, Tona ou pra quem estudou em Belo Jardim também era Peruca, de Caxangá que me lembre era só nosso inesquecível Adrião. Imagino que a maioria deles já se conheciam antes da ida para o Agrícola, mas sem dúvida, foi no convívio de internato que todos passaram a ter uma relação de proximidade muito mais intensa.
Foram 4 anos vivendo juntos, na sala de aula, nas aulas de campo, nas poucas horas de lazer e no dormitório. O nosso cotidiano era marcado pela previsibilidade, com hora marcada pra tudo. Desde a hora de acordar às 6h, até às 10h da noite, o horário de dormir. Tinha hora para tudo.
Nossa turma era muito grande e composta por estudantes vindo das mais diferentes cidades, algumas que ouvimos o nome dela pela primeira vez ali e também de outros estados. Aquela diversidade de culturas e saberes foi fundamental na formação humanista desta turma.
Nos entendíamos muito bem, já no primeiro semestre conseguimos identificar o perfil de cada um, formávamos as patotas dos mais próximos, muito em função de fatores mais diversos, futebol, religião, gosto por estudar, enfim, nos harmonizamos e nossas vidas se entrelaçam cada vez mais.
Adrião era um atleta destacado, nem um pouco parecido com Chico, nosso CDF, mas com sua força deu pra passar até com Tito. Eu sempre fui muito próximo dele, várias vezes estive em sua casa na usina Caxangá. Uma família linda, pais maravilhosos que só poderiam dar uma formação que produziu as condições de tornar Adrião um grande homem.
Adrião esteve aqui em Salvador pra fazer uns exames que enviei para Cuba, foi uma tentativa de ver a possibilidade de recuperar a visão, fato que os cubanos informaram não ser mais possível. Nesta mesma época, já que estava aqui na capital aproveitou pra visitar pontos turísticos da cidade sendo ciceroneado pela minha sobrinha, que por coincidência, está hoje em Amaraji, onde meu amigo de uma vida será sepultado.
Ficam as lembranças sempre agradáveis tanto do passado, quanto de nosso reencontro a partir de Sanharó e depois em Tamandaré. Meu irmão, tô com saudade de ti, e sei que quando a pandemia passar, a nossa turma irá se reencontrar novamente em Tamandaré. Confesso: aí vai ser difícil não se lembrar de ti e da nossa amizade fraterna.
À Laudicéia, filhas, irmãs e demais familiares, os meus sentimentos e a certeza de que vocês tiveram um grande exemplo de ser humano para se espelharem.
Josias Gomes – Deputado Federal do PT/Bahia licenciado e atualmente titular da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR).
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