A Quixaba, um Trator e a Resistência Sertaneja

Era dia de festa na Quixaba, em Uauá, e o sertão estava como sempre: cercado por serras, sob o céu aberto de um sol escaldante, guardando uma resistência que parece brotar da terra seca. Desta vez, a celebração tinha um motivo especial — a chegada de um trator, símbolo de esperança e de força para a agricultura familiar.

O trator, fruto da incansável articulação de Marlene Cardoso, secretária de Assistência Social de Uauá, era um sonho aguardado por muitos na região. Ela fez o pedido e eu como deputado federal do PT, fiz questão de atender. Não se tratava apenas de um equipamento, mas de um passo para dinamizar a atividade agrícola num município que enfrenta diariamente os desafios de um clima impiedoso.

Antes de seguirmos para a Quixaba, estive na casa de Marlene, esposa do ex-prefeito Olimpinho. Lá, encontrei o prefeito Marcos Lobo, que me recebeu com um entusiasmo renovado, típico de quem acaba de conquistar uma reeleição. Ele tem grandes planos para o interior do município, como um projeto ambicioso para a construção da barragem de Bendegó da Pedra. Conversamos sobre a importância desse projeto. O Bendegó, terra do famoso meteorito encontrado em 1784, é hoje um símbolo não apenas da história, mas também da necessidade de preservar e valorizar os recursos naturais para o futuro do sertanejo.

Conversei também com o vice-prefeito Moisés Ribeiro sobre os desafios que estão por vir em Uauá. Discutimos planos para o desenvolvimento da cidade e, ao final, o convidei para uma prosa mais demorada em Salvador.

Na Quixaba, a comunidade já nos aguardava, reforçada pelos presidentes das Associações Comunitárias das comunidades vizinhas. Estava lá Elenita Gonçalves, da Associação Comunitária Agropastoril da Fazenda Marruá. Sua presença era carregada de história, pois sua mãe foi uma das mulheres fundadoras da Copercuc, símbolo da força e da organização coletiva no sertão. Também estava Carlos Cardoso, representando a Associação Comunitária Agropastoril da Fazenda Papagaio, e Elias, presidente da Associação do Paredão do Lô.

José Gonçalves, o “Gigante”, presidente da Associação da Serra da Besta também compareceu. Ele já havia sido contemplado com um trator anteriormente e fez questão de compartilhar os cuidados que sua comunidade tem com a manutenção do equipamento. Suas palavras eram de inspiração para os novos beneficiários.

Mas foi Rosa Cardoso, presidente da Associação Comunitária da própria Quixaba quem nos recebeu como uma verdadeira anfitriã. Com alegria e hospitalidade, organizou um almoço que foi um banquete sertanejo: bode guisado, bode frito, galinha de quintal da famosa perna preta — “essa é das boas”, disse Luzinete, nossa sempre cicerone. Muito obrigado, Rosa, por fazer da Quixaba não apenas um lugar de luta, mas também de acolhimento.

Ao pino do meio-dia, sob o calor abrasador, o trator ficou exposto à sombra de um pé de catingueira, símbolo do sertão. Ali, reunidos, discutimos política, a valorização da agricultura familiar e os desafios que ainda precisam ser superados. O clima era de otimismo e determinação.

No retorno para Uauá, ainda fizemos uma visita ao laticínio de leite de cabra, onde Adilson, presidente da Copercuc, nos apresentou os avanços na produção de leite, queijo e outros derivados. Seu relato foi uma aula de como a organização e o trabalho coletivo podem transformar vidas, mesmo em um cenário de tantas adversidades.

A professora Luciene Góis, ex-presidente da Câmara de Vereadores também esteve presente. Conversamos sobre o trabalho realizado no Natal solidário promovido pela Secretaria de Assistência Social, que atende mais de 2.000 crianças todos os anos. Sua dedicação e carinho pelas ações sociais em Uauá são inspiradores.

A Quixaba, com suas serras, suas gentes e sua força, mais uma vez nos ensinou que o sertão não desiste. Com o trabalho de lideranças como Elenita, Carlos, Rosa, José Gonçalves, Elias, Luciene e tantos outros, a agricultura familiar segue como a base sólida que mantém a vida pulsando no interior. E com a política certa — aquela que escuta e age —, seguimos abrindo caminho para novas colheitas.

Luzinete, nossa cicerone principal, fez as honras da casa em cada momento. Muito obrigado, minha querida companheira por nos guiar neste dia tão especial para Uauá e para o sertão.

Josias Gomes – Deputado Federal do PT/Bahia,
Vice-Líder do PT na Câmara

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