
Caetano Moura herói nacional
Muitas pessoas que transitam diariamente pela Rua Caetano Moura, no bairro da Federação, em Salvador, desconhecem que essa via é uma justa homenagem a um dos baianos negros mais célebres da nossa história. Esse apagamento histórico de heróis nacionais, especialmente daqueles ligados às lutas populares, reacende o debate sobre a necessidade urgente de o Estado brasileiro criar mecanismos para dar visibilidade à vida e à obra de brasileiros notáveis.
Caetano Lopes de Moura (1779–1860), filho de escravizados africanos, ainda na juventude, aos 18 anos, participou da Revolta dos Búzios, também conhecida como Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates. O movimento, ocorrido no século XVIII em Salvador, então capital da Bahia, pregava a libertação dos escravos, a instauração de um governo igualitário, a criação de uma República na Bahia, a liberdade de comércio e o aumento dos salários dos soldados.
Derrotados pelo império, os revoltosos foram duramente perseguidos, e muitos foram massacrados. Foi nesse contexto que Caetano Moura iniciou sua jornada fora do Brasil, fugindo para Portugal. Sua tábua de salvação foram os estudos: ingressou na Universidade de Coimbra, onde cursou Medicina. Imagine: um filho de escravizados africanos tornar-se médico no país que subjugava os brasileiros. Obstinado, Caetano alistou-se no exército como médico-cirurgião e participou da Guerra Peninsular, conflito ocorrido entre 1807 e 1814 na Península Ibérica, envolvendo Portugal, Espanha, Grã-Bretanha e França, como parte das Guerras Napoleônicas.
Sua experiência no “Velho Continente” levou-o a aprofundar seus estudos. Caetano adquiriu renome na medicina em Paris e tornou-se autor de obras científicas e culturais na terra do Iluminismo. Poliglota, contribuiu ainda com a tradução para o português de obras de grandes autores franceses, ingleses e alemães. Nessa altura, sua fama já corria a Europa, chegando ao conhecimento de ninguém menos que Napoleão Bonaparte, que confiou no baiano para ser seu médico particular.
Sabemos o destino final de Napoleão: após a derrota na Batalha de Waterloo, em 1815, ele perdeu o poder, mas não seu lugar na história. Já Caetano Moura não teve o mesmo reconhecimento no Brasil. Muito pelo contrário: ao regressar à terra natal, em 1846, após o sucesso na Europa, passou a viver como um simples anônimo, chegando a mendigar no Rio de Janeiro.
Depois de muito penar, o então imperador do Brasil, Dom Pedro II, tomou conhecimento dos feitos de Caetano Moura e o reinseriu no ciclo social da época, concedendo-lhe uma pensão paga pelo Estado brasileiro até sua morte, aos 81 anos. Esse singelo reconhecimento no final da vida fez com que seu nome batizasse uma rua. No entanto, uma rua que carrega o nome de um herói brasileiro, sem que seu povo conheça sua história, é como o vai e vem de carros e transeuntes: ninguém sabe ao certo aonde vai parar.
A vida e a obra de Caetano Moura dão a real dimensão do quanto o Estado brasileiro precisa, em conjunto com a sociedade civil, resgatar a memória dos verdadeiros heróis da pátria. Um país precisa ter referências de pessoas que lutaram por justiça, liberdade e democracia. Esse é o alicerce de toda nação que almeja soberania permanente. Precisamos olhar para o passado e reconhecer que o Estado Democrático de Direito, tão atacado por forças retrógradas, descende de muitas lutas, sangue e vidas sacrificadas.
Caetano Moura, presente!
Josias Gomes – Deputado Federal do PT/Bahia
Vice-líder do PT na Câmara
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