
Canudos: a Justiça que volta em nome da memória e da reparação
A histórica cidade de Canudos, símbolo de resistência e tragédia nacional, recebeu o projeto Praça de Justiça e Cidadania, uma ação que vai muito além da oferta de serviços públicos. Trata-se de um gesto de reparação histórica, que reconhece a dívida do Estado brasileiro com o povo sertanejo, dizimado no final do século XIX por um genocídio patrocinado pelo governo federal, então sob o comando do presidente Prudente de Morais.
Iniciativas como essa, além de promoverem cidadania e inclusão, ajudam as novas gerações a compreenderem a importância da memória histórica de Canudos, onde milhares de homens, mulheres e crianças foram mortos por lutarem por fé, justiça e dignidade.
Por isso, os parabéns são para toda a equipe envolvida, mas é justo destacar o ministro Carlos Brandão e o ex-Procurador-Geral da República Augusto Aras, que têm se dedicado com sensibilidade e visão a esse projeto tão significativo.
O ministro Carlos Brandão tem se mostrado um homem público comprometido com o desenvolvimento humano, social e cultural do país. Sua trajetória revela um espírito republicano e sensível às causas do povo, especialmente do povo nordestino. Em cada ação, percebe-se o olhar de quem compreende a importância de unir justiça e cidadania como instrumentos de transformação social. Sua presença nesse projeto não é apenas institucional, mas simbólica — representa o Estado que ouve, acolhe e repara.
A ancestralidade de ambos parece falar mais alto neste gesto: é como se, de algum modo, tivessem vivido — em suas raízes familiares e em sua memória coletiva — aqueles tempos difíceis do sertão, quando o povo de Conselheiro foi massacrado. Essa herança simbólica e afetiva talvez explique a profunda dedicação e o compromisso com um projeto que une justiça, cultura e reparação histórica.
Vale lembrar que o avô de Augusto Aras, José Aras, foi um homem de notável sabedoria popular — engenheiro agrônomo e geólogo sem formação acadêmica, mas com o dom de encontrar água no meio do sertão, dom raro e valioso naquelas terras áridas. Poeta, repentista e crítico dos costumes de seu tempo, José Aras escreveu o primeiro relato em versos de cordel sobre a Guerra de Canudos e registrou, em prosa, a história daquele conflito sob a ótica dos sertanejos. Sua casa em Bendegó chegou a acolher o historiador José Calasans, que reconheceu o valor de sua obra.
Essa linhagem de homens ligados à terra e à palavra — de sabedoria prática e sensibilidade poética — ajuda a compreender a ligação profunda de Augusto Aras com o sertão e com a memória de Canudos.
Em um país que tantas vezes esquece seus vencidos, ver o Estado retornar a Canudos não com armas, mas com serviços, escuta e respeito, é um sinal de esperança e reconciliação.
Josias Gomes – deputado Federal do PT da Bahia.
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