
Coronel Marcionílio Souza: do Sertão ao nome de uma cidade
Escrevo hoje sobre uma figura que marcou a política da Bahia na chamada República Velha e que, mais tarde, se transformou em topônimo da Chapada Diamantina: o coronel Marcionílio Antônio de Souza, nascido em 1858, em Condeúba, no sertão baiano.
Vindo de origem simples, chegou à região de Maracás como tropeiro e, aos poucos, construiu prestígio e influência. Tornou-se o chefe político mais importante do município e de toda a área circunvizinha, liderando o grupo dos Rabudos em oposição aos Mocós, facções locais que se digladiavam pelo comando das mesas eleitorais, da intendência e da polícia.
O coronel Marcionílio exerceu um mandonismo típico dos coronéis da Primeira República: controlava votos, distribuía favores, mantinha jagunços a seu serviço e determinava quem podia ou não ocupar cargos públicos. Seu poder não se restringia ao município de Maracás. Estendia-se por todo o sertão da Chapada Diamantina, onde o coronelismo floresceu com líderes que funcionavam como intermediários entre um Estado distante e a vida dura do sertanejo.
No auge de sua influência, Marcionílio chegou a articular alianças com Horácio de Matos, outro grande coronel da Chapada, e participou da movimentação política conhecida como Levante Sertanejo. Essa capacidade de mobilizar gente, armas e recursos fez dele um ator político respeitado — e temido — na Bahia da Primeira República.
Mas o tempo dos coronéis tinha prazo de validade. Com a Revolução de 1930, Getúlio Vargas iniciou o processo de enfraquecimento do poder privado no interior. Foi nesse contexto que Marcionílio Souza acabou preso em Jequié e levado a Salvador, acusado de comandar perseguições, expulsar juízes e proteger criminosos. O coronelismo, que por décadas dera as cartas na política baiana, entrava em declínio diante da centralização do poder no novo regime.
Faleceu em 1943, em Maracás. Anos depois, em 1962, o antigo distrito de Tamburi foi emancipado e recebeu o nome de Marcionílio Souza, homenagem oficial a um homem que, com todos os excessos e contradições, deixou sua marca na história da Bahia.
Hoje, ao percorrer a Chapada, encontro no município de Marcionílio Souza a memória viva de um tempo em que os coronéis ditavam os rumos da política. É um retrato duro, mas necessário, para que compreendamos como a Bahia rural foi forjada no entrechoque entre a força privada dos chefes locais e a lenta construção de um Estado democrático.
Josias Gomes Deputado Federal do PT/Bahia
Vice-líder do PT na Câmara
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