Desafios do nosso tempo: não existem soluções fáceis
A reflexão sobre o atual momento político e social do Brasil nos traz à tona questionamentos inquietantes: será que estamos diante de uma falha na comunicação do governo federal, incapaz de traduzir suas ações e avanços em percepção popular, ou estamos sucumbindo à despolitização crescente que parece nos empurrar ladeira abaixo? Essa despolitização, marcada pela falta de engajamento crítico da população, tem se mostrado um desafio imenso, especialmente em tempos em que reconstruir o país deveria ser uma missão compartilhada.
Na comunicação que reconheço não ser a minha área, apresentarei algumas sugestões ouvidas de vários companheiros e companheiras, que de algum modo podem contribuir no fortalecimento da disputa ideológica.
Tomemos como exemplo a cidade de São Paulo. Nas eleições recentes, a periferia, tradicionalmente vista como um reduto de pautas progressistas, votou em peso no atual prefeito, em vez de apoiar Guilherme Boulos, um candidato que, em tese, representa diretamente suas lutas e aspirações. Isso revela um desalinhamento entre os discursos de transformação social e as demandas percebidas por essa parcela da população. Há aí uma lição amarga sobre como comunicar ideais e conquistas de maneira que ressoe profundamente com a vivência das pessoas.
Desde 2023, o governo federal tem investido em ações de reconstrução que, no papel, demonstram um avanço significativo. O Bolsa Família foi completamente reformulado, garantindo maior abrangência e eficácia na transferência de renda. O retorno do programa Minha Casa Minha Vida trouxe novamente a esperança da casa própria para milhares de brasileiros, embora seu impacto pareça ofuscado por outros fatores. Mesmo iniciativas como o “Pé de Meia”, que oferece segurança financeira a milhares de jovens estudantes das escolas públicas brasileiras, não têm sido suficientes para traduzir esse impacto em resultados positivos nas pesquisas de popularidade.
Na Bahia, por exemplo, 408 mil jovens acessaram o programa Pé de Meia, que permite a permanência de estudantes da rede pública nas escolas, algo que deveria ser motivo de celebração e orgulho nacional. No entanto, a percepção de tais avanços continua aquém do esperado. O Sistema Único de Saúde (SUS) foi reorganizado, resultando em melhorias significativas no atendimento básico, mas a persistência de problemas históricos, como a fila de regulação, parece ofuscar essas conquistas e alimentar a insatisfação popular.
E há mais uma preocupação urgente, por corroer o poder de compra do salário mínimo: o aumento constante dos preços dos alimentos. Esse tema tem afetado diretamente o cotidiano da população, que sente no bolso o peso da alta dos alimentos.
Os itens básicos, como arroz, feijão, óleo de cozinha e carnes, têm registrado percentuais de aumento assustadores. Está evidente que alguns produtos essenciais subiram de forma exorbitante — é só ir ao mercado para ver —, gerando ainda mais insatisfação e insegurança nas famílias brasileiras.
A luta contra a carestia deve ser um compromisso prioritário, não apenas para proteger as famílias mais vulneráveis, mas também para recuperar a confiança no governo Lula entre os mais pobres.
É impossível não lembrar as palavras de Zé Limeira, o poeta repentista paraibano, que dizia: “Quanto mais carinho eu faço, mais recebo ingratidão”. O ex-prefeito petista de Conceição do Coité conhece esse poema. Essa sentença, carregada de ironia e melancolia, parece ecoar na relação entre o governo federal e parte da população brasileira. Por que será que avanços concretos não se traduzem em reconhecimento? Por que a sensação de ingratidão parece permear o cenário político atual?
A resposta talvez esteja em uma combinação de fatores. De um lado, a comunicação governamental tem falhado em narrar suas conquistas de maneira simples, direta e alinhada com os valores e expectativas do povo. Do outro, a despolitização enfraquece a capacidade crítica da população que, cercada por desinformação e interesses midiáticos, tende a priorizar questões imediatistas em detrimento de mudanças estruturais.
Há, portanto, um desafio gigantesco para os próximos anos: politizar o debate público, resgatar a consciência coletiva e fortalecer os laços de confiança entre governo e sociedade. Reconstruir um país não é tarefa fácil, mas é preciso que todos, governo e povo, compreendam que essa reconstrução só será possível com diálogo, empatia e uma comunicação que valorize tanto as conquistas quanto os desafios. Afinal, como dizia o poeta, não basta fazer carinho; é preciso fazer com que o carinho seja compreendido e valorizado.
Para complicar ainda mais o cenário, temos a chegada de Trump ao poder nos EUA, causando profundas mudanças na política global. Trump, como sempre fez, jogou por terra todo o esforço dos governos democratas — e outros nem tanto — na política ambiental, propondo o desmonte de acordos e iniciativas que visam combater as mudanças climáticas e promover a sustentabilidade. A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris é um marco que reforça o descaso de seu governo com a urgência ambiental global.
Com sua política expansionista, Trump quer tomar o Panamá, anexar o Canadá e até comprar a Groenlândia, demonstrando ambições imperialistas que lembram práticas do século XIX. Ao mesmo tempo, com uma retórica isolacionista, afirmou na última segunda-feira que “não precisa de ninguém”, argumentando que o mundo é que depende dos Estados Unidos, numa visão que aliena aliados e reforça tensões internacionais.
Qual será o futuro da humanidade sem uma política ambiental global? Enquanto Trump promove o negacionismo climático, os problemas se agravam. O planeta segue em alerta com desastres naturais, aquecimento global e a destruição de ecossistemas.
Além disso, os problemas migratórios se intensificam, agravados pela desigualdade social, conflitos armados e mudanças climáticas. Os países colonialistas europeus e os Estados Unidos exploraram por séculos a América Latina, África e Ásia, deixando um rastro de pobreza, desigualdade e falta de perspectivas. Agora, esses mesmos países fecham suas fronteiras, ignorando as consequências de suas ações históricas e se recusando a acolher as populações que buscam uma vida melhor.
Aonde vamos? Os políticos de direita estão exultantes, comemorando retrocessos e priorizando interesses de curto prazo. E nós, da esquerda, o que faremos? Precisamos unir forças, propor alternativas globais e resistir aos retrocessos. A luta não é apenas contra um governo, mas pela sobrevivência da humanidade e do planeta.
É por tudo isso que repito uma frase há muito usada, mas que segue atual: “Quando eu pensei que sabia das respostas, mudaram as perguntas.”
Simbora!
Josias Gomes – Deputado Federal do PT/Bahia
Vice-líder do PT na Câmara
Se concorda, compartilhe!
📌 Siga:
Instagram: https://instagram.com/josiasgomes1312
Facebook: https://www.facebook.com/Josiasgomespt
Deixe um comentário