
Itapebi, Xangai e o Rio que abraçam
Comemorar vem do latim commemorare, que quer dizer “lembrar junto”. Pois o prefeito Isan Botelho resolveu levar isso a sério e, para os 67 anos de emancipação de Itapebi, decidiu não apenas lembrar junto, mas lembrar cantando, rindo, contando história e, claro, fazendo o povo pensar que está vivendo numa crônica do Rubem Braga temperada com molho baiano.
O convidado especial não podia ser outro: Eugênio Avelino, o Xangai. Cantador, compositor, violeiro e sujeito que consegue fazer um verso sobre uma cabra ter a mesma importância que um discurso na Câmara Federal. Filho de ex-prefeito de Itapebi, voltou à terrinha a convite de Isan para abrilhantar a festa — e, cá entre nós, para provar que é possível ter sucesso nacional e ainda saber onde fica a rua da padaria.
A Secretaria de Educação fez bonito: botou a meninada da rede municipal para cantar músicas dele. E não foi playback não: foi no gogó mesmo, com direito a aluno que afinava a voz na base do “coça a garganta e vai”. Xangai visitou as escolas, conversou com os alunos e se preparou para ontem, quarta-feira 13 , uma cantoria com os conterrâneos — algo entre um show e uma assembleia popular, só que com mais violas e menos pauta burocrática.
Entre um “oi” e um “como vai”, conversamos sobre seus parceiros: Elomar, Geraldo Azevedo, Fábio Paes, Vital Farias… e o projeto Pixinguinha, que foi uma ONU da música nordestina e da MPB. Falamos também da Cantoria antológica e de como “Matança” virou clássico. Aliás, se botar “Matança” pra tocar no Jequitinhonha até o rio chora.
Mas Isan, além de prefeito, resolveu ser cicerone, junto com ele, também nos ciceroneavam, o vice-prefeito Mazinho, os vereadores Brizola e Galego, com fortes raízes na cidade baixa e a vereadora Valéria. Levaram-nos à cidade baixa onde Itapebi começou. Fomos recebidos por histórias do cacau e da pesca. Do alto de uma escola municipal, avistamos o rio Jequitinhonha se exibindo com a mata atlântica, como quem diz: “Ainda estou aqui, firme, bonito e sem pagar IPTU.” O casario colonial ainda resiste — e resiste bem, mesmo sem ter plano de saúde.
O ex-prefeito Peba contou que na margem esquerda ficavam as fazendas dos ricos. E rico que gostava da boa música, tinha fazenda tão importante que Luiz Gonzaga já tocou por lá, na Estrela do Norte. Visitamos também a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, com sua escadaria colorida. A deputada Fabíola Mansur avisou: “Primeira vez na igreja, faz um pedido que é batata.” Claro que todo mundo fez, mas ninguém contou — pra não estragar a mágica e também pra não passar vergonha. Tem ideia de qual foi o de Fabíola?
E então veio o momento “National Geographic” da visita: a canoa gigantesca exposta na praça. Galego explicou que para tirá-la do rio, foi preciso um mutirão com corda, caminhão, gente puxando as cordas e muita paciência. Essa canoa fazia o trajeto Itapebi–Belmonte carregando cacau. Conheci a esposa de Juraci, trapicheiro dos primeiros tempos, homem que carregava 60 quilos de cacau nas costas com a naturalidade de quem leva um pãozinho pra casa.
E assim, entre música, história e prosa boa, Isan conseguiu uma proeza: fazer aniversário da cidade sem ser apenas bolo e parabéns. Foi resgate histórico, foi aula de geografia, foi show, foi missa, foi tudo junto. E o Rio Jequitinhonha que é desses que não perdem viagem, continuou lá, abraçando Itapebi com a paciência de quem sabe que cidade boa é assim mesmo: mistura passado e presente, com a tranquilidade de quem já viu de tudo — e ainda vai ver muito mais.
Parabéns, Itapebi. E parabéns, Isan, por provar que política também pode ser feita com viola na mão e pé na beira do rio.
Josias Gomes
Deputado Federal do PT/Bahia
Vice-líder do PT na Câmara
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