Laudelina de Campos Mello, heroína da Pátria!
Quis o destino que o dia 26 de Julho, data aclamada por revolucionários do mundo inteiro por ser o símbolo da Revolução Cubana (M-26-7), fosse o dia da publicação no Diário Oficial da União o nome de Laudelina de Campos Mello no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria. PL de autoria da deputada federal e atual vice-governadora do Distrito Federal Celina Leão (PP), sob relatoria da deputada Benedita da Silva (PT) e sancionado pelo presidente Lula.
A honraria destinada a Laudelina é reservada às pessoas notáveis e protagonistas da liberdade e democracia no Brasil. A vida e obra desta mulher negra traduz toda opressão imposta pela elite escravista e a capacidade de luta do povo negro em resistir e transformar a realidade imposto pela estrutura retrógrada de quase 4 séculos de escravidão oficial, fora o tempo de abandono no pós abolição.
Neta de escravizados desde os 7 anos, Laudelina precisou trabalhar como doméstica em casa de família e logo encarou a dura realidade: pouca coisa mudara desde o tempo dos seus ancestrais. Mineira de Poços de Caldas, era uma mulher obstinada a fazer história, aos 16 anos fundou o Clube 13 de Maio, onde promovia atividades culturais junto aos negros, que não podiam frequentar os mesmos espaços que os brancos, era o apartheid velado à brasileira, pouco retratado no Brasil, mas sentido na pele e alma de cada família negra.
Ao completar 18 anos, decidiu migrar para São Paulo, “terra das oportunidades”, depois a litorânea Santos, mas nas metrópoles também viveu a sina dos descendentes de escravizados, a realidade posta não era diferente do restante do país. A precarização em que sobreviviam as trabalhadoras domésticas era total, muitas delas retirantes iguais a Laudelina. Depois de anos servindo às famílias paulistas, já idosas, as mulheres eram jogadas a própria sorte nas ruas, abandonadas por patrões sem nenhum direito, muito menos proteção do Estado.
Nasce a militante: a heroína abraçou a causa das domésticas, viu a oportunidade de alugar os casarões abandonados pela elite e transformá-los em pensões, com o dinheiro arrecadado no empreendimento, acolhia as mulheres abandonadas em situação de rua. Infelizmente, mesmo com o passar dos séculos, grande parte das famílias brasileiras, enxergam na figura da doméstica o trabalho das mucamas escravizadas. Laudelina, de fato, foi a primeira pátria a
às domésticas desde o Brasil Colônia.
Laudelina de Campos Mello viu que sozinha a sua luta por melhores condições de vida e trabalho não seria suficiente para reverter a estrutura social vigente até o século passado. Filiou-se ao Partido Comunista e a Frente Negra Brasileira. No ano de 1936 enraizou o seu legado de luta com a fundação da Associação de Trabalhadores Domésticos do Brasil, em Santos. Antes de Pelé, Laudelina já era orgulho do povo negro e com suas ações foi desmontando as defesas de um país excludente e racista.
Getúlio Vargas encerrou as atividades da Associação das Domésticas, mas não conseguiu barrar o heroísmo de Laudelina; quando eclodiu a Segunda Guerra Mundial, alistou-se nas Forças de Paz e atuou como espiã do Exército Brasileiro. Foi responsável direta por descobrir um infiltrado alemão que indicava as rotas e horários dos navios brasileiros com suprimentos aos alemães. Por mais esta missão honrosa, Laudelina foi condecorada pelo Exército.
Nos anos 40, Laudelina continuou a sua militância ao refundar a Associação de Trabalhadoras Domésticas. Pressionava políticos do alto escalão, ministros, a mídia, pintava e bordava para garantir direitos das Domésticas e acesso à Cultura. A luta deu resultado, em 1972 as trabalhadoras conseguiram o direito de ter carteira assinada, ainda que sem os mesmos beneficios de outras profissões.
As décadas de luta da heroína negra fizeram brotar Sindicatos de Domésticas em todo Brasil. Despediu-se da luta para entrar no panteão dos heróis e heroínas da Pátria no ano de 1991. Hoje, a sua residência em Campinas é sede do Sindicato das Domésticas, Laudelina deixou o patrimônio de papel passado para as trabalhadoras como símbolo permanente da sua causa.
Provavelmente, você nunca ouviu falar da heroína negra que é uma das maiores personagens brasileira de todos os tempos, o que reforça a necessidade de termos o nome e a memória de Laudelina no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria — ou Livro de Aço, a obra é composta por páginas de aço e fica na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
O Brasil precisa cada vez mais valorizar seus verdadeiros heróis e heroínas da Pátria. Reforçar o legado destes companheiros e companheiras através da educação, cultura, propagar seus nomes em locais públicos. Lutemos por mais colégios, aeroportos, praças, ruas e avenidas sem nomes de ditadores, coronéis, e mais Laudelinas, a líder negra forjada no aço da luta.
Josias Gomes – Deputado Federal do PT/Bahia
Vice-Líder do PT na Câmara
Se concorda, compartilhe!
Siga:
Instagram https://instagram.com/josiasgomes1312
Facebook https://www.facebook.com/josiasgomespt
Deixe um comentário