O Julgamento Histórico e o Bastão da Extrema Direita Global

O julgamento de Jair Bolsonaro e a sua inelegibilidade marcam, sem dúvida, um momento histórico no Brasil. Mas como alerta o jornalista Jamil Chade em artigo publicado na Revista Liberta, não basta apenas um processo judicial para desbolsonarizar o país: trata-se de enfrentar uma rede de longo prazo, transnacional e profundamente articulada.

Um episódio nos bastidores da derrota de Donald Trump ao final de seu primeiro mandato, expõe com nitidez como funciona a globalização da extrema direita. Naquele momento, Valerie Huber então secretária para Assuntos de Família da Casa Branca, redigiu sua mensagem de despedida. No texto, agradecia o apoio das entidades ultraconservadoras e apelava para que as alianças criadas para “definir os valores da sociedade” fossem mantidas.

O detalhe mais revelador estava no parágrafo final: Huber orientava todos esses grupos a não abandonarem a luta e, para seguir no mesmo caminho, procurarem a embaixada do Brasil em Washington. Em outras palavras, o governo Trump — derrotado — transferia o bastão da liderança internacional do extremismo para Jair Bolsonaro. O Brasil deixava de ser apenas palco de disputas internas e passava a desempenhar papel ativo na articulação global da agenda ultraconservadora.

Esse episódio demonstra algo fundamental: não estamos diante de improvisos, mas de uma estratégia estrutural e de longo prazo. A extrema direita opera em rede, partilha métodos, símbolos, recursos e até mesmo “centros de comando” diplomáticos. O Brasil, sob Bolsonaro, foi elevado a esse patamar.

Portanto, o julgamento que tornou o ex-presidente inelegível é apenas um capítulo. A desbolsonarização exigirá desmontar uma engrenagem que ultrapassa fronteiras nacionais. Trata-se de enfrentar não só indivíduos, mas estruturas, narrativas e alianças internacionais que seguem ativas.

Como bem coloca Jamil Chade na Revista Liberta, o desafio é mais profundo do que afastar um líder. O que está em jogo é reconstruir os fundamentos democráticos em um cenário em que o extremismo opera em rede globalizada, com capacidade de se reinventar e de influenciar diferentes sociedades.

Josias Gomes
Deputado Federal do PT/Bahia
Vice-líder do PT na Câmara
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