O meu primeiro e o último voto em Amaraji!
O meu primeiro e o último voto em Amaraji!
Parece que foi ontem, mas já se vão 44 anos que dei meu primeiro voto. Foi nas eleições municipais de 1976, à época, vivíamos em plena ditadura militar e só existiam dois partidos, ARENA e MDB.
A ARENA abrigava um amontoado de políticos com interesses bem distintos e ao mesmo tempo de origens bem sórdidas. Tinha os da direita, os conservadores, os bajuladores da ditadura militar e os oportunistas de sempre que ficam do lado que identificam ser o mais “forte”.
Já o MDB era o partido de oposição consentida, onde estavam os democratas, os nacionalistas de esquerda, parte da esquerda que _não aderiu à luta armada e preferiu fazer o enfrentamento na limitada ação parlamentar. Eram tempos difíceis. _
As eleições praticamente eram cartas marcadas, bem ao estilo Brasil “ame-o ou deixe-o”.
O processo eleitoral da época era cheio de vícios, em alguns casos, chegando a ser uma aberração, como a invenção da sub-legenda, uma engenhosa forma deles levarem sempre a melhor. O instituto da sub-legenda permitia a cada partido apresentar até três candidatos, com um detalhe bastante cavernoso que dificultava ainda mais a possibilidade de vitória de um opositor do regime militar, os votos dos três candidatos de cada partido eram somados e a vitória, claro, era do partido que obtivesse a maior soma de votos.
Com esse casuísmo montado pelos milicos, era quase impossível o MDB eleger um prefeito, dificilmente se encontrava um candidato de oposição, quanto mais os três. O pior dano colateral de uma ditadura é simular a veracidade. Pois bem, foram nessas condições pantanosas que inaugurei o meu voto.
Em 1976, a ARENA elegeu prefeito, Albérico Batista dos Anjo, mas conhecido por Seu Beca – era o dono da farmácia Santa Terezinha, vizinha a igreja matriz de São José, o padroeiro de Amaraji – fez barba, cabelo e bigode, também elegendo todos os 7 vereadores.
No tempo da maldade, também existiam pessoas que gostavam de ajudar os pobres, Seu Beca com sua solicitude, era a salvação de quase todo o povo dos engenhos e dos pobres em geral que não tinham acesso à médico, – Naquela época não existia o SUS – Percebam que desde sempre a oligarquias faziam da ausência de políticas públicas eficientes máquina eleitoreira.
Os candidatos pela ARENA e MDB foram os seguintes:
Candidatos a prefeito pela ARENA:
ARENA 2 – Albérico Batista dos Anjos Vice – Severino Fabricio da Silva (eleitos).
ARENA 1 – Álvaro Soares de Melo
Vice – João Gouveia da Silva.
MDB 1
José Regis da Silva
Vice – Adelson Luiz dos Santos.
MDB 2 – José Cícero
Vice – João Martins de Lima.
MDB 3 – José Teixeira de Araújo – Zé Leó.
Vice – João Martins de Lima.
A composição da Câmara de Vereadores foi reduzida de 9 para 7 vereadores e foram eleitos os seguintes vereadores:
1) Josefa Fabrício: Zeza de Biu Pateta
2) José Vicente Fereira – chefe de linha das ferrovias da usina.
3) Severino Barbosa – pai de Ôfa, Toinho, Miguel e outros, uns já falecidos.
4) Amadeu Cordeiro-
Com esse, eu e Antônio Inácio temos uma história muito interessante, nós estávamos em Recife no ano de 1983 tentando emprego e nada, estávamos sem dinheiro pra voltar pra Amaraji e havia uma reunião dos fornecedores de cana na sede da entidade na Av. Imbiribeira, saímos do centro e fomos pra lá a pé, na expectativa de encontrar alguém de Amaraji, e encontramos Amadeu, que nos “emprestou” dinheiro da bendita passagem de volta.
Muito tempo depois, eu já Engenheiro Agrônomo, visitando Amaraji, fui tomar umas lá naquele sítio da família dele, em Guloso. Ele estava lá, fui lembrar a ele o acontecimento da minha juventude e ele não se lembrou, aproveitei e também não paguei a minha passagem. Rssss.
Os outros candidatos daquele pleito foram:
5) Sebastião Agostinho –
6) misael Fabrício
7) Gilberto Benigno
Pelo MDB, os verdadeiros heróis que se postaram ao sacrifício “democrático”:
1) Horário Antônio
2)Amaro Andrade de Lima
3) Sebastião Batista
4) Amaro José da Silva
5) José Vicente da Silva
6) Paulo José da Silva
7) Antônio Apolonio do Nascimento
8) Paulo Teixeira de Araújo
9) José Avelino da Silva filho
10) José Assis da Silva
11) Maria José de lima
12) Amara Amâncio da Silva.
Meu primeiro voto de prefeito foi pra Zé Leó e vereador Horácio.
Nas eleições de 1976, seu Horácio do rádio, acho que era assim que o conhecíamos, era a aposta geral na cidade. Estava eleito. Seria o vereador mais votado, mas o clima de já ganhou foi fator muito prejudicial e seu Horácio perdeu as eleições e assim, nós também perdemos o nosso ferrenho opositor de ter um lugar de fala privilegiado.
Nas eleições de 1978 se organizou nacionalmente um movimento para pregar o Voto Nulo, eu estava neste movimento. Como protesto contra as eleições de cartas marcadas, escrevíamos na cédula eleitoral pra anular o voto, a seguinte frase: VOTE NULO POR UM PARTIDO DOS TRABALHADORES.
Me lembro de um comício que houve naquela eleição, onde o candidato da Arena a Deputado Federal, Josias Leite estava presente, não sei se era o candidato de Seu Beca, eu distribuí panfleto pedindo o voto nulo. Foi um rebuliço da peste. Acionaram até Gino, meu pai.
O movimento teve força! O voto nulo naquele ano atingiu 30% do eleitorado brasileiro, sinais silenciosos de novos tempos.
Dois anos depois, do destemido ato VOTE NULO POR UM PARTIDO DOS TRABALHADORES, no dia 10 de fevereiro de 1980 fundamos o PT. Isso mesmo meus caros, a luta abre flancos por onde o bonde da história certamente deve passar.
Em 1982, votei pela última vez em Amaraji e também inaugurei o voto no Partido dos Trabalhadores.
Governador: Manoel da Conceição
Senador: Bruno Maranhão
Deputado Federal: Jarbas Barbosa Deputado Estadual: Humberto Costa.
Todos do PT.
Eleições para prefeito em 1982.
PDS 1 – Álvaro Soares de Melo
Vice – Gilberto Benigno de Barros (eleitos).
PDS 2 – José Osório Coêlho Neto
Vice – Adailton Antonio de Oliveira. PDS 3 – Jose Teófilo Sobrinho
Vice – Sebastião Agostinho Ferreira. PTB 1 – José Justino Jerônimo
Vice – Elias José do Nascimento.
PTB 2 – Paulo Jorge Bezerra Coelho
Vice: Marco Antônio de Araújo.
PMDB 1 – Severino Barbosa da Silva / Vice – José Agostinho Ferreira.
PMDB 2 – João Gouveia da Silva
Vice – Luiz Monteiro de Oliveira.
PMDB 3 – José Cicero
Vice – Maria Rosalda Silveira.
Em 1982, foi realizada a primeira eleição com um pouco mais de liberdade, acabou o bipartidarismo, tinha o guia eleitoral ainda que num formato muito sacana já que os candidatos só podiam falar o nome e o número.
O pior era que você só podia votar em um único partido e assim fiquei sem condições de escolher os candidatos pra prefeito e vereador.
Mesmo assim, fiz campanha sem poder votar – porque senão anulava o voto nos candidatos do PT – em Zé Cicero para prefeito e Jânio Gouveia que estreou em disputas eleitorais naquele ano, para vereador pelo PMDB. Pedi voto e no dia da eleição, fiz boca de urna no colégio D. Luís de Brito.
Nos encontramos quase em frente a padaria de Severino Barbosa, ele com dúvidas se teria votos suficientes pra eleição, quase todos nós tínhamos essa dúvida, naquela conjuntura o impossível acontecia. Felizmente se elegeu bem com mais de 200 votos.
Eu votava na sessão eleitoral 29. A apuração naquele ano ocorreu no salão paroquial e Aline Costa era coordenadora do processo de apuração. Fui lá e disse a ela que se não aparecesse meus votos nos candidatos do PT, eu iria anular a eleição. Quanta pretensão. Mas enfim estava lá, computado meu voto nos candidatos do PT, aliás o único voto recebido pelos meus ilustres candidatos naquela sessão e com este resultado, Aline ficou livre de minha luta pela anulação. Rsss.
A vida é sempre um eterno retorno, nem que se faça longos desvios, ou mesmo que se busquem atalhos, sempre estamos de volta e quando posso, sempre volto ao meu “torrão bendito onde nasci”, quando não posso ir, escrevo esses artigos lembrando de passagens da minha infância e adolescência em Amaraji.
Sinto não ter conseguido arregimentar um conjunto de conterrâneos pra lutar, defender uma sociedade justa e igualitária, tão necessária numa região de grande latifúndio como a nossa. Fica o exemplo da luta para as novas gerações. É por meio da política que realizamos as grandes transformações que buscamos. As nossas cidades e o nosso país necessitam do povo combativo. Queria ou não, Política define o destino de milhões de pessoas.
Josias Gomes – Deputado Federal do PT/Bahia licenciado e atualmente titular da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR).
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