Pedro Igor resolveu ajuntar os troços e pegou o beco!
“Você está na idade
De alcançar a liberdade
De fazer sua vontade
De tornar-se homem também”.
– Poeta pernambucano Sebastião Dias.
Pedro foi simbora e nem se despediu de mim. Confesso, o culpado foi eu mesmo, que não consegui chegar a tempo ao jantar organizado por Cecília. Resolvemos o desencontro logo no domingo, ele veio e almoçamos juntos. Durante este encontro de pai e filho, rememorei cada segundo da nossa convivência.
Desde o seu nascimento em Itabuna, até o último sábado, 27 de novembro de 2021 que você morou conosco.
Lembro de cada passo da sua bela trajetória. Desde quando começou a estudar na escola Vitória Régia, que ainda está no mesmo lugar, me lembro da primeira vez que fui te deixar lá, um chororô da gota serena. Recordo como se fosse hoje, quando fostes várias vezes comigo e Cecília pra reuniões nas cidades da região. E com apenas dois anos participou da campanha de Geraldo Simões em 1992. Alguém repassou para você o jingle da campanha e você não largou mais: “Não tem jeito, Geraldo é um prefeito”. Assim mesmo era como você pronunciava a frase. Conforme dizem meus conterrâneos “o sangue puxa”.
Moramos na Mangabinha, depois no Bairro de Fátima e por fim no Jardim Primavera, onde você já estava formando sua turma de amigos, barulhentos que só vocês mesmos. Muitos deles seguem seus amigos até hoje, aliás, esta é uma das suas maiores qualidades, prezar pelas boas amizades.
Você e sua turma formaram uma banda de forró, meus amigos, quando eu não tinha agenda no fim de semana e ficava em casa e essa turma ia ensaiar, aí aí viu, era som até umas horas; resultado, já foi leitura.
Pedro, você foi uma criança alegre, brincalhona, não dava dor de cabeça, a adolescência também foi normal, tivemos as preocupações que todos os jovens causam aos pais, mas, tirando alguns sustos, foi tudo muito bem. Com a sua iminente partida, eu comecei a pensar como a vida é interessante e tudo passa tão rápido. Olho para nossa relação de pai e filho e também carrego a certeza de que estes momentos que vivemos e muitos outros que virão faz de cada dia um século.
No dia em que você nasceu, cheguei cedo na maternidade Manoel Novaes em Itabuna. Aproveitei o trajeto da Mangabinha até a maternidade e fui a pé juntando a minha caminhada com a visita à maternidade. Eu ainda não sabia se era homem ou mulher, Cecília não quis saber teu sexo nem o de Maria e por tabela eu também não. A minha cabeça estava em grande movimento, ia pensando na mudança que teria de passar, afinal, a chegada de um filho nos enche de orgulho e de muita responsabilidade.
Meu filho, quando te vi no berço fiquei imóvel por uns segundos, a enfermeira vendo a emoção tentou me ajudar, “ele parece muito com o senhor, parabéns.” Mas na verdade a minha cabeça estava lá longe, pensando em tantas coisas ao mesmo tempo: em mãe, que se fosse viva com certeza estaria aqui chorando de emoção, em Gino meu pai, naquele ano ainda estava entre nós, e que do jeito dele, iria ficar alegre tão logo soubesse no teu nascimento e que também se lembraria de Minininha, sua avó.
Imaginava de como seria a sua educação, a minha responsabilidade paterna. Pensava em mim e na sua mãe, a nossa vida de casado, que mudaria bastante com a sua chegada. Enfim, muitos pensamentos de pai, que pra falar a verdade, nunca deixamos de ter estes pensamentos protetores, mesmo depois do filho ser homem feito. Um dia você saberá o que te digo.
Foi uma alegria só acompanhar seu crescimento, o amadurecimento que veio acompanhando o tempo, as suas escolhas sempre com autonomia e que lhe permitiu discernir bem entre as escolhas. Claro que conversávamos e conversamos sempre, mas nada de imposição. Você se tornou adulto, maduro, com sabedoria e capacidade de enfrentar o dia a dia com muita responsabilidade, somos felizes por isto, eu e Cecília.
Tenho um orgulho muito grande de vocês dois, Maria e Pedro, somos afortunados por termos filhos tão amorosos. O amor da nossa família só aumenta, e a união entre você e Carol é a prova disso. Acreditamos muito que vocês serão felizes. Sucesso Dom Pedro e Caroline!
Em Tempo: tô chorando aqui, viu!
Essa canção é do poeta pernambucano Sebastião Dias, que eu lhe dedico. Um beijo.
Esse é o conselho
Que todo pai, toda mãe
Gostaria de dar pra o seu filho!
Por favor, filho querido
Me escute, pense bem
Seu velho pai quer lhe dar
O valor que você tem
Você está na idade
De alcançar a liberdade
De fazer sua vontade
De tornar-se homem também
Tem umas coisas meu filho
Que eu queria lhe dizer
Lhe eduquei como podia
Já cumpri com o meu dever
Você agora decida
O futuro lhe convida
Eu gerei, Deus deu-lhe a vida
É você quem vai viver
Tem espinhos no começo
Aguarde flores no fim
Respeite os seus semelhantes
Siga o bom, deixe o ruim
Por onde você passar
Reconheça o seu lugar
Pra ninguém se envergonhar
De um filho meu, nem de mim
Defenda a moral sem sangue
Ajude a quem precisar
Quando tiver precisão
Peça um pão pra não roubar
Ouça o velho, ame o menor
Pense em Deus, faça o melhor
Coma e vista do suor
Que o seu rosto derramar
Não queira ouro roubado
Nem amor por fantasia
Escolha mulher sincera
Para sua companhia
Faça meu filho, o que fiz
Veja como sou feliz
Só casei com quem me quis
E sua mãe com quem queria
O mundo tem dois caminhos
Um é certo, o outro errado
Na escolha de um deles
É preciso ter cuidado
Se você não escolheu
Um deles pra ser o seu
Se quiser seguir o meu
O exemplo é meu passado
Mesmo na maior idade
Quero estar sempre contigo
Lhe ensinando bons caminhos
Lhe livrando do perigo
Estando perto ou distante
Não lhe deixo um só instante
Porque de agora em diante
Além de pai, sou amigo
Corra mundos, faça amigos
Conheça o que eu conheci
Transmita o que eu lhe ensinei
Conquiste o que eu consegui
Aproveite a juventude
Ame a paz, honre a virtude
Quando quiser quem lhe ajude
Seu velho pai está aqui.
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