Reinaldo anistiado. Vida longa ao REI!
A democracia marcou um golaço! O gênio Reinaldo foi anistiado pelo Conselho da Anistia — órgão de assessoramento direto e imediato do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). A votação unânime reconhece que o ex-jogador e militante político foi perseguido durante a ditadura civil-militar no Brasil entre 1964 e 1985.
A título de comparação, o futebol de Reinaldo, eterno ídolo do galo e da seleção brasileira assemelha-se ao de Ronaldo Fenômeno. Mas com uma grande diferença em suas posições políticas: Reinaldo é socialista e foi um crítico ferrenho da ditadura. Ao marcar gols decisivos em campo, erguia o punho cerrado inspirado no movimento dos Panteras Negras (EUA) em protesto aos anos de chumbo, que censurava, torturava e matava opositores do regime.
Seu posicionamento custou caro a carreira e a vida pessoal. Em 1978, a Copa do Mundo foi sediada na Argentina sob a mais cruel e sangrenta ditadura da América Latina. A Seleção Brasileira comandada por militares insistia em não convocar o melhor jogador de sua geração — ao lado de Zico. O motivo era óbvio: os generais não queriam um “subversivo” marcando gols. Mas o Brasil pós-Pelé que já vinha do fracasso em 1974, não poderia preterir um dos maiores camisas 9 que o futebol mundial já produziu. Reinaldo venceu a censura, a perseguição e foi para a Copa de 1978, na terra de Maradona.
O sonho do jovem Rei de brilhar nos gramados logo virou pesadelo. Antes do início da Copa, recebeu uma visita nada amistosa: Ernesto Geisel, o general “presidente” da República. O ditador reuniu-se com jogadores e comissão técnica e, segundo Reinaldo, vociferou: “Então é esse o menino?!”, chamando-o para sua sala.
“O general disse que eu jogava muito bem, mas que não deveria falar de política, porque disso eles cuidavam. Tudo num tom imperativo e firme: estava me dando um recado. Fiquei assustado e não respondi nada”, conta Reinaldo.
O Brasil estreou na Copa e Reinaldo deixou suas marcas: um golaço contra a Suécia e o punho cerrado, desafiando as juntas militares do Brasil, da Argentina e da América Latina. O feito que entrou para a história como um dos gols mais importantes da democracia, custou-lhe a vaga de titular na Copa de 78 e o levou ao ostracismo na seleção canarinho. Passou a ser acusado de ser comunista, gay e usuário de drogas — artifício típico para minar sua imagem pública, bem ao método fascista que conhecemos.
Ainda no auge, em 1982, foi preterido pela seleção de Telê Santana, o time que encantou o mundo com futebol-arte na Copa da Espanha. O Brasil foi punido pelos deuses do futebol por renegar o craque socialista, que certamente era o homem-gol que faltava no estilo montado por Telê. Ao invés de Reinaldo, o atacante que brilhou no jogo decisivo (Brasil x Itália) foi o italiano Paolo Rossi. A ditadura e o povo brasileiro teve que engolir mais uma derrota em mundiais.
O Rei renegado pelos militares teve a vida devastada. A Seleção Brasileira ficou órfã de seu talento e amargou um longo jejum de títulos mundiais até conquistar o tetra (1994) nos EUA — ironicamente, o país que patrocinou golpes militares na América Latina.
O capítulo Reinaldo ultrapassa a esfera futebolística e mostra como a ditadura deixou chagas profundas na vida dos cidadãos e do país. É vital denunciar que os mesmos militares que o perseguiram foram anistiados muito antes do nosso craque militante. Por isso, é tão importante que o Conselho da Anistia reconheça, ainda que tardiamente, que o ex-jogador foi um perseguido político.
A história não pode ser reescrita, mas homens da grandeza de Reinaldo têm o poder de mudar seu curso. A democracia trouxe a merecida justiça para a biografia do nosso companheiro. Reinaldo deixa um legado de militante destemido, símbolo de liberdade democrática.
Hoje, Reinaldo é muito mais do que o ídolo máximo do galo, o gênio injustiçado pela Seleção, o jovem que sozinho ousou erguer o punho na cara dos ditadores. Reinaldo entra para o panteão dos heróis da Pátria.
Vida longa ao REI!
Josias Gomes
Deputado Federal (PT/Bahia)
Vice-líder do PT na Câmara
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