
Simões Filho: memória de um político e de um jornal que moldaram a Bahia
Escrever sobre Simões Filho é revisitar um capítulo essencial da história política e jornalística da Bahia. Refiro-me aqui a Ernesto Simões da Silva Freitas Filho, nascido em Cachoeira, em 4 de outubro de 1886, e falecido no Rio de Janeiro, em 24 de novembro de 1957. Foi jornalista, empresário e político que marcou época ao fundar, em 15 de outubro de 1912, o jornal A Tarde — diário que sobreviveu a ele e se consolidou como um dos maiores e mais respeitados da Bahia.
Desde cedo, Ernesto revelou vocação para a imprensa. Ainda adolescente, por volta dos 14 anos, criou o pequeno jornal caseiro O Carrasco. Em 1904, lançou O Papão, uma publicação de caráter satírico, inspirada na revista O Malho, que contou com a colaboração do artista Presciliano Silva. Jorge Calmon chegou a descrevê-lo como “um autêntico jornalista” já naquela idade.
Com A Tarde, Ernesto inovou ao lançar um jornal vespertino, em contraponto aos matutinos tradicionais. Foi assim que nasceu também a marca registrada do periódico, conhecida de todos os baianos: “Deu n’A Tarde é verdade”.
O político Ernesto Simões Filho
Na política, Ernesto foi um nome de peso. Partidário de José Joaquim Seabra e de Octávio Mangabeira, exerceu mandatos de deputado estadual e federal, concorreu ao governo da Bahia e ao Senado. Com o golpe de 1930, foi forçado ao exílio, só retornando em 1933, quando passou a integrar a oposição ao interventor Juracy Magalhães. Apesar de ter sido crítico de Getúlio Vargas em um primeiro momento, mais tarde veio a integrar seu segundo governo como ministro da Educação.
Ao longo de sua trajetória, mostrou habilidade em unir política e comunicação, entendendo que a imprensa era não apenas um espaço de notícias, mas também um instrumento de construção democrática e de influência no debate público.
O legado familiar
Sua herança não se limitou à fundação do jornal. Após sua morte, em 1957, Dona Regina presidiu o Grupo A TARDE por 52 anos, após a morte de seu pai, em novembro de 1957. Durante sua gestão, ela se destacou no mundo empresarial em um período que era pouco habitual às mulheres ocuparem cargos executivos.
A ex-presidente do A TARDE nasceu em Salvador no dia 28 de agosto de 1912, pouco menos de dois meses antes da fundação de A TARDE.
A homenagem: a cidade de Simões Filho
O peso de Ernesto na vida pública baiana foi tamanho que, em 7 de novembro de 1961, quando um distrito foi desmembrado de Salvador e elevado à categoria de município pela Lei Estadual nº 1.538, a nova cidade recebeu o nome de Simões Filho, em sua homenagem. Um gesto que consagra sua importância e traduz o respeito que conquistou ao longo da vida.
Um legado que resiste
Costumo pensar que a história da Bahia não pode ser contada sem a lembrança de Ernesto Simões Filho: o jornalista que inovou na imprensa, o político que transitou entre exílio, mandatos e ministérios, e o homem público que deu voz a uma geração. Sua marca atravessa o tempo, tanto nas páginas de A Tarde quanto no mapa da Bahia, na cidade que leva o seu nome.
Como deputado federal e militante do Partido dos Trabalhadores, reconheço nele um personagem que nos ensina a importância de unir a ação política à capacidade de comunicação. Esse legado segue vivo, lembrando-nos de que imprensa e política, quando aliadas a um projeto de desenvolvimento e justiça social, são pilares de transformação da sociedade.
Josias Gomes Deputado Federal do PT/Bahia
Vice-líder do PT na Câmara
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