
Tarcísio, a anistia e o chicote bolsonarista
Era só o que faltava. O governador Tarcísio de Freitas, mesmo atolado até o pescoço no escândalo bilionário da Secretaria da Fazenda e Planejamento de São Paulo, tirou o paletó e desembarcou em Brasília para liderar, com deputados de estimação, a cruzada pela anistia de Jair Bolsonaro. Governar o maior estado do Brasil? Parece detalhe. Tá mais desarrumado do que defesa de time pequeno. Oxente, governador, o senhor já não tem panela demais no fogo?
O problema é que o STF já bateu o martelo: crimes contra o Estado democrático de direito não são passíveis de anistia. Mesmo assim, Tarcísio insiste em cutucar onça com vara curta, movimentando seus aliados para provocar crise entre os Poderes — tudo em nome de salvar golpistas e não largar o osso do apoio do clã Bolsonaro em 2026. Narciso, como canta um certo baiano, acha feio o que não é espelho.
No meio desse rolo, o alvo é o presidente da Câmara, Hugo Motta. Estaria disposto a de colocar contra a maioria dos brasileiros que não querem anistia? Pois bem, se Hugo Mota ressuscitar a pauta da anistia, ele vai ver com quantos paus se faz uma jangada. Vai querer carregar no lombo o título de homem que deu salvo-conduto a quem tentou destruir a democracia? Tem cabra que gosta de brincar com fogo e esquece que palha seca pega ligeiro.
A semana promete ser um divisor de águas. Além do julgamento de Bolsonaro, o Congresso encara a Reforma do Imposto de Renda — bandeira popular do governo Lula, que amplia a faixa de isenção até R$ 5 mil e pode furar a bolha da polarização. O Planalto ainda aposta no programa Gás do Povo e na redução da conta de luz para mobilizar a base social. De outro lado, a oposição arma CPI do INSS e o Centrão tenta faturar com o nervosismo do mercado.
E Brasília ferve: investigações da Polícia Federal contra o crime organizado na Faria Lima revelam ligações de presos com 25 viagens em comitivas de Tarcísio. Enquanto isso, a Bolsa sobe e o dólar cai com sua pré-candidatura apoiada pelo mercado — mas a sombra do bolsonarismo não o larga. Eduardo Bolsonaro ameaça, finge resistir, mas tudo indica que no fim haverá um acordo: uma anistia “light”, Bolsonaro inelegível, mas longe da Papuda.
No fundo, Tarcísio já mostrou suas duas bandeiras de campanha: privatização total e anistia aos golpistas. Com uma mão, entrega o patrimônio público; com a outra, dá colo ao autoritarismo. Mais repetido que carro de pamonha em bairro pequeno. Refém do chicote bolsonarista, canta a ladainha da anistia como se fosse novena de promessa. É golpe continuado, sem máscara, sem vergonha. Mais atrevido que jegue em feira livre.
Do outro lado, Lula ocupa espaço com a agenda “picanha e cerveja”, joga duro com o mercado e adverte: “tem muita reunião na calada da noite, todo mundo está tentando se juntar — a extrema-direita, os fascistas — para me derrotar no próximo ano”.
O calendário é pesado: PIB, CPI, tarifaço americano, desfile de 7 de Setembro e a expectativa do julgamento de Bolsonaro. A cada movimento, cresce a pressão sobre Tarcísio, que sabe que sem a bênção do capitão não tem futuro.
A moral da história? O setor democrático precisa estar mobilizado. O Brasil não pode inocentar quem quis impor uma ditadura. Tarcísio já escolheu seu lado — e é capaz de tudo para não perder o apoio de Bolsonaro. E nós, vamos assistir calados?
A semana promete, Neném!
Josias Gomes Deputado Federal do PT/Bahia Vice-líder do PT na Câmara
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