50 anos sem Vladimir Herzog – “No solo do Brasil”
No dia 25 de outubro, completaram-se cinquenta anos da morte do jornalista Vladimir Herzog. Pode parecer muito tempo, mas, para a História, é uma fração de segundo. Principalmente em um país onde milhões de brasileiros sequer admitem que houve uma ditadura, quanto mais que ela praticou tortura, sequestro, assassinatos e desaparecimento de corpos.

O assassinato de Herzog, porém, não foi em vão. Torturado e morto, foi covardemente acusado pela ditadura de cometer suicídio. A trama dos fratricidas, no entanto, não convenceu a opinião pública e seu crime tornou-se o estopim para a derrubada dos anos de chumbo no Brasil. A canção “O Bêbado e a Equilibrista”, de João Bosco e Aldir Blanc, imortalizada na voz de Elis Regina e citada no vídeo, tornou-se um hino do movimento pela Anistia. Vlado, o aguerrido jornalista, como era chamado por seus companheiros e companheiras, transformou-se em um memorial vivo em defesa da democracia e dos direitos humanos.
Ao escrever este texto, rememoro que há exatos 56 anos, em 4 de novembro de 1969, a ditadura também assassinou em São Paulo o companheiro Carlos Marighella. Poeta, guerrilheiro, homem de fé na humanidade – a quem já prestei homenagem em outro texto, logo no início da manhã. Na realidade, ele merece um tributo diário. Falar de Herzog, Marighella e da companheira Clara Charf – que nos deixou ontem, aos 100 anos – é contar a história do Brasil que não pode e não deve ser esquecida.

No período democrático, Caetano Veloso cantou: “Um mulato baiano que morreu em São Paulo / Baleado por homens do poder militar / Nas feições que ganhou em solo americano / A dita guerra fria, Roma, França e Bahia / Os comunistas guardavam sonhos / Os comunistas, os comunistas!”
Nos países da América Latina, a Democracia está sempre em disputa. A Guerra Fria não foi sepultada, assim como muitos corpos de revolucionários jamais serão. Nunca podemos esquecer que Bolsonaro, herdeiro da ditadura brasileira, foi eleito por voto direto – o que seria impossível sem intervenção estrangeira e num país com memória. Muito menos podemos diminuir a gravidade da tentativa de golpe por ele liderada. Caso tivesse triunfado, neste momento muitas Marias e Clarices voltariam a chorar; provavelmente, este texto seria censurado, ou eu mesmo estaria exilado, quiçá encontrando o mesmo infortúnio de Herzog.

Recordemos os 50 anos da morte de Herzog com a consciência de que a democracia e a soberania nacional sempre precisarão ser defendidas com a coragem dos mártires brasileiros que lutaram pelo Estado de Direito. Afinal: “A esperança equilibrista / Sabe que o show de todo artista / Tem que continuar”…
Josias Gomes
Deputado Federal do PT/Bahia
Vice-líder do PT na Câmara
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