Memórias do Movimento Estudantil
Eu entrei na Escola de Agronomia do Nordeste em 1977, depois de concluir o curso Técnico Agrícola no Colégio Agrícola de Belo Jardim. Foi ali que começou uma jornada que iria além dos muros do ensino técnico. Mais do que o conhecimento, fui moldado pelas amizades e pelas batalhas que abracei ao longo do caminho. Desde o início, defendi as campanhas do MDB, partido que acolhia a maioria dos resistentes à ditadura na legalidade, enquanto outros companheiros(as) seguiam o caminho da luta armada. Ali fiz grandes amigos, como André Rostand Ramalho, carinhosamente chamado de “Mostrinho,” de Campina Grande, e Severino Avelino da Silva, de Mogeiro, conhecido como “Maquilagem,” devido ao apelido do seu irmão Antônio Hibernon, “Beleza”. Esses paraibanos me abriram portas e, principalmente, me inspiraram a continuar meus estudos em Areia, na Paraíba, onde um novo capítulo se iniciava.
Chegando lá, mergulhei em um ambiente fervilhante de ideias e lutas que ecoavam o desejo de uma transformação urgente. Os anos 1970 foram marcados pela reorganização da esquerda, que renascia das cinzas após as perseguições da ditadura militar. Tanto o movimento estudantil quanto o operário cresciam, unidos pelo desejo de democracia, anistia e direitos para o povo. Em 1978, protagonizamos a primeira greve estudantil da Paraíba desde o golpe de 1964. Foi um grito de resistência, um momento histórico que ressoava por todo o estado, unindo vozes e esperanças em um só coro.
Nesse ambiente de efervescência, atuei no Diretório Acadêmico Jaime Coelho de Moraes, onde fui presidente. Organizar o movimento estudantil era desafiador; cada eleição e cada decisão precisavam ser conquistadas com muito diálogo e articulação. Em uma dessas eleições, a direção do Centro Acadêmico permitiu, num gesto de abertura, que estudantes de pós-graduação votassem, uma decisão que acabou nos custando a vitória por poucos votos. Perdemos para Kiko; nossa candidata era Giucélia Araújo. Mas, ainda que não tenhamos vencido, cada disputa e cada derrota foram lições sobre a democracia e sobre a força do movimento estudantil em Areia. Esse movimento democrático que construímos juntos continua vivo em todos nós até hoje, pois quase todos estamos no PT, ainda firmes em nossos ideais.
Em 1979, tive a honra de participar como delegado do congresso de reconstrução da UNE, em Salvador, um momento marcante que selou a união de estudantes de todo o país em prol da democracia. Eu, um jovem sonhador, nem imaginava que a Bahia seria o meu lar, onde constituiria família, faria amizades eternas e fincaria raízes na luta política.
Recentemente, fui surpreendido com uma homenagem que me tocou profundamente. No último dia 25, publiquei um artigo em comemoração ao Dia da Democracia, homenageando o jornalista Vladimir Herzog, cuja morte, às mãos da ditadura, tornou-se símbolo da luta pela liberdade. Para minha surpresa, Lorena Melo, companheira de lutas ao lado de figuras como Péricles, Pastorinha, Pepê, Paulo André, o Índio, Baracuy e Galinha Preta, compartilhou o artigo com nosso ex-diretor, Normando Melquiades, que me respondeu com palavras emocionantes, resgatando a essência dos ideais que cultivamos naquela época.
Normando escreveu:
“Lorena, minha amiga, conhecemos o Josias Gomes ainda jovem e idealista. Mesmo naquela época, ele já demonstrava seu caráter, sua personalidade e disposição de luta pela democracia nos anos de chumbo. Somos testemunhas disso. O momento político atual fez surgir oportunistas que pregam milagres para uma população ainda desprotegida contra esses aventureiros. Mas vocês, que conheci na EAN/CCA, mantêm a mesma conduta política de sempre. Isso nos mostra que abraçaram uma causa política como propósito de vida, ao contrário de muitos que hoje ocupam o Congresso. Parabéns ao Deputado Josias Gomes; como aluno, ele deixou sua marca no surgimento do DAJCM.”
As palavras de Normando foram um verdadeiro presente, lembrando-me que o que construímos ao longo da vida vai além de qualquer mandato ou título. Saber que, aos olhos de alguém que tanto respeitamos, conseguimos manter acesa a chama da luta pela democracia é algo que carrego com orgulho. Porque o verdadeiro legado do movimento estudantil é esse: o compromisso de construir uma sociedade justa e democrática, não apenas para o presente, mas também para as gerações futuras.
Meu querido professor Normando, aqui estou, já no quinto mandato de deputado federal pela Bahia, sempre pelo Partido dos Trabalhadores. E, aproveitando a oportunidade, lembro-lhe de um fato que talvez tenha passado despercebido: a primeira viagem aérea que fiz, de João Pessoa a Brasília, foi graças a uma passagem que o senhor me deu.
Esses gestos, essas pequenas histórias, são as que moldam nossa trajetória e que, como o movimento estudantil, continuam vivos em cada passo que damos em direção a um Brasil mais justo. Na fotografia do card, uma verdadeira relíquia, temos Margarida Alves, Lula e outros companheiros e companheiras em um ato na cidade de Guarabira, no ano de 1980. Passa um filme na minha cabeça ao lembrar que, daquela luta estudantil, semeamos o renascimento democrático: o operário virou presidente e o estudante, Deputado Federal. Seguimos firmes na luta para mudar o Brasil, com a missão de inspirar a juventude a ser protagonista da História.
Josias Gomes – Deputado Federal do PT/Bahia
Vice-líder do PT na Câmara
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