O Silêncio dos Bons Patriotas
Imaginemos, por um instante, que a notícia tivesse se invertido: em vez de uma tentativa frustrada de assassinato contra Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, a trama tivesse sido urdida por militantes de esquerda. Ah, o espetáculo seria cinematográfico, com direito a trilha sonora dramática, vinheta de plantão a cada dez minutos e um desfile interminável de especialistas indignados.
Os âncoras das TVs fariam cara de perplexidade, com sobrancelhas arqueadas ao estilo William Bonner. “Como ousam tentar desestabilizar a nossa democracia?!”, clamariam, enquanto gráficos coloridos mostrariam conexões suspeitas com governos de esquerda da América Latina. “Chávez”, Maduro, Evo Morales… até o Che Guevara voltaria dos mortos como peça-chave do complô. E Lula? Ah, Lula seria acusado de ser o “mandante intelectual” entre um intervalo de “Lula Livre” e outro.
No Congresso, uma CPI surgiria instantaneamente, presidida por algum bolsonarista vibrante. As redes sociais explodiriam, com vídeos conspiratórios de patriotas em tons graves, clamando pela deposição imediata do presidente. A Faria Lima entraria em pânico, a Bolsa despencaria e editoriais de jornais tradicionais pediriam “rigor” e “justiça”.
Mas não foi isso que aconteceu. O que aconteceu foi algo muito mais grave: a tentativa de golpe partiu do outro lado, dos “bons patriotas” de alta patente, aqueles que, em tese, juraram defender a democracia. E o que tivemos? Um silêncio ensurdecedor. Os jornalões não fizeram o que tanto cobram: a redentora autocrítica. Sim, a grande mídia foi cúmplice dos golpes no passado e está metida na lama até o pescoço neste ponto em que chegamos. O ódio ao PT gerou este monstro fascista, capaz de planejar terrorismo de Estado.
Silêncio que destoa dos brados eufóricos que ecoaram em outros tempos. Lembram-se do mensalão? Ah, ali a elite econômica e a direita vibraram com entusiasmo. Era o momento de moralizar o país! As colunas sociais e os editoriais mais lidos do Brasil exigiam justiça como se o futuro da nação dependesse disso. A elite tucana pontificava em tom professoral, explicando como o PT havia “corrompido o sistema”.
E na Lava Jato? Meu Deus, que espetáculo épico! Cada PowerPoint do Deltan Dallagnol era ovacionado como se fosse uma obra-prima. Sérgio Moro, o novo herói nacional, com seu semblante severo e voz contida, virou ícone. A Faria Lima batia palmas de pé. Empresários brindavam à prisão de Lula, enquanto discursos inflamados de “combate à corrupção” ecoavam em jantares regados a vinhos caros.
O país parou para assistir, fascinado, enquanto a direita aplaudia a destruição de uma economia inteira sob a bandeira da moralidade seletiva. Afinal, corrupção era um problema, desde que fosse de esquerda. Quanto aos esquemas da direita? “Ah, não vem ao caso.”
Agora, o que temos diante de uma tentativa de assassinato? Os filhos de Bolsonaro, aqueles que não perdem a chance de criar confusão por qualquer coisa, emitiram algumas declarações vazias, quase monossilábicas, irracionais. Nenhuma defesa veemente, nenhum brado contra a barbárie. Silêncio.
E a elite, onde está? Cadê os porta-vozes da moralidade nacional, os que não toleram “governos autoritários de esquerda”? O que eles têm a dizer sobre os planos desses generais em busca de sangue e poder?
Faria Lima, meu amor, você que tem opinião sobre tudo, especialmente quando o dólar oscila e a reforma tributária avança, cadê a indignação? Os “mercados” não querem opinar? Ou será que a palavra “golpe” só assusta quando vem de alguém com boina vermelha?
E os bolsonaristas raiz, defensores da pátria, da família e da liberdade, por onde andam? Será que estão ocupados demais formatando a narrativa para dizer que não era golpe, mas “um plano mal interpretado”?
Ironias à parte, fica a pergunta no ar: o que esses militares pretendiam? Defender a democracia ou impor um governo ditatorial? A resposta parece óbvia, mas o silêncio dos bons patriotas é ainda mais eloquente.
No final, somos deixados a contemplar a estranha lógica deste país: quando a ameaça vem da esquerda, o mundo vira de cabeça para baixo. Quando vem da direita, o silêncio abafa o grito. E assim seguimos, esperando a próxima tentativa — ou a próxima ironia da história.
Diante de tantos questionamentos, de uma coisa tenho a certeza cristalina: os golpistas não podem passar impunes. Toda essa corja que atentou contra o Brasil agora é fruto da impunidade do golpe de 64. #SemAnistiaParaGolpista
Josias Gomes – Deputado Federal do PT/Bahia
Vice-Líder do PT na Câmara
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