
O silêncio que ecoa em Célio Maranhão
Há perdas que se parecem com um silêncio que de repente invade a sala. Silêncio que não é ausência, mas presença que se impõe: a lembrança de uma vida inteira dedicada à causa coletiva. Assim recebi a notícia da partida de Célio Maranhão, um companheiro de longa estrada, cuja militância discreta, mas firme, ajudou a costurar os retalhos de esperança que sustentaram o Partido dos Trabalhadores na Bahia.
Engenheiro de formação, educador popular por vocação, Célio carregava consigo aquela rara capacidade de transformar a política em pedagogia. Foi assessor da Cáritas, militante da Rede Jubileu Sul, presença constante em rádios comunitárias, espaços de fé e cidadania, e sobretudo nos encontros onde o povo simples buscava voz. Ele acreditava que a transformação social começava pela palavra — dita, partilhada, ecoada. Por isso, mesmo sem buscar os holofotes, tornou-se um farol para muitos militantes.
Nesta mesma semana, ainda estava vivo em mim o impacto da partida de Everaldo Anunciação, companheiro inseparável desde 1989, quando cheguei à Bahia. Everaldo foi amigo e irmão, parceiro de tantas lutas, e sua ausência abriu um vazio difícil de explicar. E quando a gente ainda procurava se acostumar com essa dor, veio a notícia de Célio — dois militantes que honraram, cada um à sua maneira, a história do PT baiano.
As palavras de Zé Maria, ao relembrar parte da trajetória de Célio, foram certeiras: ele foi daqueles que sustentaram o fio invisível que une gerações de militantes, que não deixaram a chama da esperança se apagar nem nos momentos mais sombrios.
A vida tem desses instantes em que a gente se pergunta sobre o próprio significado da militância. Olho para trás e vejo quantos já se foram: Zé Olívio, Acácio Araújo, Paulo Jackson, Pedro dos Anjos, Zezéu Ribeiro, Totó, Gilberto Lisboa de Una, Zé Carlos e Marcelo Sales de Paripiranga, Waldir Pires, Angélica de Sátiro Dias, Carmelita Ângelo… nomes que moldaram o PT, a CUT, o sindicalismo aguerrido que nasceu com o nosso partido. Cada partida deixou um buraco, e fomos, aos poucos, aprendendo a caminhar sem eles. Mas nunca sem sentir a falta que fazem.
E agora se somam a essa lista Everaldo e Célio. Um, construtor da unidade partidária, militante incansável pela organização; o outro, mestre silencioso da educação popular, guardião de princípios que não cabem em cartilhas, mas se espalham em gestos, conversas, sementes.
O vazio é enorme. Mas há algo que permanece: a certeza de que eles honraram cada minuto de suas vidas na luta por um Brasil mais justo. Se o silêncio da saudade nos dói, o eco da trajetória deles nos conforta.
Que a história não os esqueça. Que o Partido, as novas gerações e todos nós que seguimos na luta possamos dizer, com orgulho: Célio Maranhão, presente! Everaldo Anunciação, presente! Hoje e sempre.
Josias Gomes
Deputado Federal do PT/Bahia
Vice-líder do PT na Câmara
#luto
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