“Ideias são mais letais que armas”. Lênin
Ontem numa conversa com o companheiro Ivan Alex, surgiu a ideia de repercutir a matéria da Folha de São Paulo, aliás sem qualquer análise e muito menos destaque, porém para nós, de um significado muito forte. Eis aí a nota sobre o ocorrido com nosso companheiro feirense.
Desde que o homem se rebelou contra a primeira opressão, nasceu o contragolpe que se ramificou no DNA daqueles que não se curvam diante de nenhuma violência física, mental, política ou social. Dizem os cientistas que o nosso DNA sofre mutações e, assim, uma das maneiras encontradas pelos revolucionários para manter sempre viva a chama da resistência é trazer à luz as memórias daqueles que lutaram e lutam por um mundo justo. Osmar Ferreira, baiano de Feira de Santana, é um desses personagens inesquecíveis.
Quem olha a fotografia no card e se depara com a imagem perfilada do companheiro Osmar aos 80 anos sequer tem ideia de que por trás daquele rosto sereno existe um capítulo importante da história do Brasil. Quando eclodiu o golpe de 1964, esse companheiro de cabelos brancos era um jovem de 21 anos, líder estudantil e bancário que sonhava em seguir carreira no Banco do Estado da Bahia. Filiado ao Partidão, Osmar foi imediatamente incluído na lista dos inimigos do Brasil: “Ame-o ou deixe-o”.
Mais de meio século depois do golpe civil-militar de 64, fazer política de esquerda enfrenta inúmeros desafios, em grande parte devido aos resquícios golpistas que ainda persistem em nosso país. Ser militante do Partido Comunista nos anos de chumbo era quase uma sentença de morte. Osmar não se acovardou, e é um dos incontáveis companheiros e companheiras que resistiram à ditadura e, como castigo, sofreram nas mãos dos ditadores de plantão.
Como membro fundador do Sindicato dos Bancários de Feira de Santana, Osmar uniu-se à luta dos estudantes e sindicalistas em defesa do então presidente, democraticamente eleito João Goulart e contra o golpe. Só para relembrar: João Goulart foi eleito, naqueles pleitos anteriores ao golpe, o vice era votado tanto quanto o presidente.
Na época, as ferramentas de resistência para aqueles que não aderiam à luta armada eram panfletos mimeografados na calada da noite, alto-falantes e coragem, muita coragem.
Certa vez, enquanto trabalhava na agência bancária que o preparava para assumir um cargo de liderança no banco, Osmar foi surpreendido por homens do Exército fortemente armados e aos gritos covardes, típicos das encenações teatrais que os militares faziam para chamar atenção e marcar posição na “luta contra o terrorismo”. À luz do dia, depois de 59 anos, nada pode nos calar. E pergunto: quem eram os verdadeiros terroristas?
Osmar foi detido e, naqueles tempos sombrios, sofreu torturas físicas e psicológicas, ciente de que não apenas sua carreira no banco estava ameaçada, mas também sua própria vida pendia por um fio. O jovem estudante e bancário foi salvo graças à intervenção de seu pai, que recorreu a um amigo influente junto aos militares. A prisão física passou, entretanto os traumas nunca desapareceram, assim como as perseguições.
Por medo da morte ou de ser preso, após ser exonerado do Banco da Bahia, Osmar passou quatro anos na boleia do caminhão de seu pai. Sempre que tentava ingressar na universidade, era recusado, continuava “fichado” pelos ditadores. Depois de muita persistência, conseguiu cursar Direito. Sobreviveu à ditadura, mas jamais esqueceu os tempos sombrios vividos no “país das calças beges”.
Osmar continuou sua luta em busca de justiça. Em 2010, foi reconhecido pela Comissão de Anistia como perseguido político. Coberto de razão, Osmar queria mais. Desejava resgatar a dignidade de sua profissão de bancário, que havia sido roubada pela Ditadura Militar no auge de sua juventude. Ele ingressou com um processo na Justiça do Trabalho contra o Bradesco, que havia adquirido o banco estatal no qual Osmar sonhava em construir sua carreira.
Aos 80 anos de idade, a Justiça do Trabalho determinou que o companheiro Osmar Ferreira fosse readmitido no banco. Imagino que, nesse momento, não seja mais pelo prazer de servir sua força de trabalho a um banco que fatura bilhões. O Bradesco é um dos defensores da maior taxa de juros do mundo, praticada pelo Banco Central, que continua a torturar os brasileiros através de endividamentos. Também não é pela exploração e assédio sofridos por muitos bancários submetidos a metas inatingíveis. Não!
Osmar retomou seu lugar de direito para provar aos filhotes de ditadores que nós estaremos sempre aqui. Sempre lutaremos pela democracia. Osmar reassumiu seu posto de trabalho para fazer justiça aos companheiros e companheiras assassinados pela ditadura, que não tiveram a oportunidade de voltar aos bancos, às universidades, aos partidos políticos, às suas famílias. Em entrevista à Folha de S. Paulo, fonte deste texto, Osmar sentenciou: “Lutar sempre, desistir jamais”.
Dedico este poema ao companheiro Osmar Ferreira:
“Há homens que lutam um dia e são bons,
há outros que lutam um ano e são melhores,
há os que lutam muitos anos e são muito bons.
Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”.
-Bertolt Brecht
#DitaduraNuncaMais
Josias Gomes – Deputado Federal do PT/Bahia
Vice-Líder do PT na Câmara
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