
Josué Castro: o gênio pernambucano lembrado por Lula em Paris
*Josué de Castro: o gênio pernambucano lembrado por Lula em Paris*
No discurso em que recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Paris 8, o presidente Lula evocou por duas vezes um nome que deveria ser mais conhecido e reverenciado no Brasil: o do médico, geógrafo, político, pensador comunista e pernambucano Josué de Castro.
Poucos brasileiros têm o prestígio internacional de Josué. Professor respeitado na própria Paris 8, admirado por Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, ele foi o autor de uma das mais corajosas e pioneiras denúncias do século XX: a fome não é uma fatalidade natural — é uma construção política, fruto da injustiça e da desigualdade.
Josué de Castro escreveu dois clássicos incontornáveis: Geografia da Fome (1946), que virou referência em todo o mundo, e Homens e Caranguejos (1967), uma obra-prima que mistura memória, crítica social e literatura. Seu pensamento atravessou fronteiras e tempos, chegando às gerações mais jovens, como no caso da banda Chico Science & Nação Zumbi, que o resgatou como guru e símbolo de resistência nos mangues da periferia recifense.
Ao mencionar Josué ao lado de nomes como Foucault e Deleuze, Lula reconecta o Brasil a um de seus grandes intelectuais universais. Ele disse:
“Aqui grandes pensadores como Foucault, Deleuze, o cientista social brasileiro Josué de Castro e meu querido amigo Marco Aurélio Garcia ajudaram a formar um pensamento crítico, que não aceita injustiça como destino e que está comprometido com a transformação social.”
A obra de Josué ganha ainda mais atualidade diante do retrato cruel da fome no Brasil de hoje — um país onde mais de 30 milhões de pessoas enfrentam algum grau de insegurança alimentar. Essa realidade, denunciada por Josué nos anos 1940, continuou a se repetir em incontáveis histórias reais, como a do “homem-gabiru”, revelada ao país pelo jornalista Xico Sá em uma reportagem publicada na Folha de S.Paulo, em 19 de novembro de 1991.
O homem-gabiru tinha nome e origem: Amaro José da Silva, morador do Engenho Bondade, no município de Amaraji, a minha cidade, na zona da mata de Pernambuco, onde predomina a cultura da cana-açúcar por mais de quatro séculos. Na época da entrevista, Amaro tinha 47 anos, media 1,35 metro e vivia em situação de miséria absoluta desde o nascimento. Sua aparência física, marcada pela subnutrição crônica, levou alguns a descrevê-lo de forma desumana, como representante de uma “sub-raça” ou até mesmo, como dizia a matéria, o possível surgimento de uma “nova espécie”. Um símbolo trágico da degradação humana causada pela fome prolongada.
Escreveu Xico Sá:
“Era como se o Brasil estivesse diante de um novo tipo humano, resultado de gerações condenadas à fome, à ausência de proteínas, à invisibilidade social.”
A imagem de Amaro José da Silva ecoa de forma brutal o diagnóstico de Josué de Castro: a fome desumaniza, rouba a dignidade e degrada a vida até o limite do suportável. Ela é a mais cruel das violências sociais — uma violência que persiste mesmo em tempos de abundância.
É tempo de o Brasil redescobrir Josué de Castro. Em um país onde ainda se tenta naturalizar a fome, precisamos lembrar, como ele nos ensinou, que ela tem nome, rosto e endereço — e que combatê-la é uma tarefa ética, política e profundamente humana.
Josias Gomes Deputado Federal do PT/Bahia
Vice-líder do PT na Câmara
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