
Leituras de Josias Gomes: São Bernardo de Graciliano Ramos
Reli São Bernardo, romance publicado por Graciliano Ramos em 1934, e fiquei mais uma vez impressionado com a força narrativa e a crítica social que permeiam a obra. Este é o segundo romance do autor e, sem dúvida, um dos mais marcantes da literatura brasileira.
A trama gira em torno de Paulo Honório, um ex-trabalhador rural que ascende socialmente sem medir consequências, tornando-se proprietário da fazenda São Bernardo. Sua trajetória é uma verdadeira parábola sobre o capitalismo no Brasil agrário, onde a ambição desenfreada leva à exploração e à solidão. O narrador-protagonista é um homem rude, pragmático e de personalidade autoritária, cuja visão de mundo limitada o impede de compreender sentimentos mais profundos, especialmente no relacionamento com sua esposa, Madalena.
O romance tem um tom seco e direto, característico de Graciliano Ramos, que constrói um protagonista cuja voz narrativa é marcada pela dureza e pela ausência de introspecção sentimental. No entanto, a escrita sintética e cortante do autor não impede que o leitor perceba as contradições e os conflitos internos do personagem. São Bernardo é, assim, um livro de denúncia social, mas também um estudo psicológico profundo sobre a ambição e suas consequências.
A obra foi adaptada para o cinema em 1972, sob a direção de Leon Hirszman, e recebeu diversos prêmios nacionais e internacionais. A edição que reli, da Global Editora, traz na capa uma bela xilogravura de J. Borges, artista pernambucano, intitulada Mulheres do Sertão, uma escolha simbólica que dialoga com a crítica social presente no romance.
Desde sua primeira edição pela Ariel, em 1934, o livro passou por diversas reedições no Brasil. A segunda edição foi publicada pela José Olympio em 1938, e a sétima edição saiu pela Martins em 1964. Em 1975, chegou à sua 24ª edição pela Editora Record, que mantém a publicação até hoje, alcançando a 99ª edição em 2017. O romance também foi publicado no formato de bolso pela BestBolso (Saraiva), em conjunto com Caetés, na série Vira-vira (dois livros em um), em 2010.
A importância de São Bernardo vai além das fronteiras brasileiras. A obra foi publicada na França desde 1936, em Portugal desde 1959, na Alemanha desde 1960, na Finlândia desde 1961, na Hungria desde 1962, na Inglaterra desde 1975, na Venezuela desde 1980, na Itália desde 1993 e na Holanda desde 1996, o que demonstra sua relevância internacional.
Para quem já leu, sempre vale a pena revisitar São Bernardo e perceber novos aspectos da prosa de Graciliano. Para quem ainda não leu, trata-se de uma obra fundamental da literatura brasileira, que continua atual em sua denúncia das desigualdades e da desumanização provocada pela sede de poder.
Josias Gomes – Deputado Federal do PT/Bahia
Vice-líder do PT na Câmara
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