O menino de Terra Branca e o legado de Marighella
Quando cheguei à Bahia, lá pelos idos de 1989, o sertão fervia de esperança. Era tempo de campanha de Lula, daquelas que deixavam o povo com o coração batendo mais forte que zabumba em festa de São João. O país inteiro parecia respirar política e sonho. Pois foi justamente nesse tempo que, lá em Quijingue, nasceu um menino chamado Joelnir. Coincidência boa essa: enquanto um Brasil novo tentava nascer, um cabra arretado também vinha ao mundo, cercado de mandacaru e fé.
Quijingue, pra quem não conhece, é daquelas terras onde o sol castiga, mas o povo não se entrega. Terra de chão rachado, mas de coração macio. Lá, nas comunidades de Terra Branca, Algodões, Maceté, Tanque do Meio, a vida é dura, mas o riso é farto. O povo se junta pra plantar, pra rezar e pra prosear. É gente que entende de solidariedade sem nunca ter lido Marx — mas pratica o comunismo do afeto no dia a dia: um prato dividido, uma enxada emprestada, um abraço que cura.
Foi desse chão que brotou Joelnir. Criado entre o barulho do sino da igreja e o cantar do galo, ele cresceu aprendendo que política não é coisa de discurso bonito, mas de mão calejada e pé na lama. Nos grupos de jovens, já mostrava o tino de liderança — desses que não mandam, mas inspiram. E, vejam só, em Quijingue o PT nunca foi uma sigla distante. Foi e é parte da própria vida do povo, misturado com a luta, o sonho e a teimosia de quem acredita num país mais justo.
Hoje, Terra Branca está em festa. A comunidade inteira tem orgulho do filho que viu crescer e que nunca esqueceu de onde veio. E eu, que vi esse cabra tomar gosto pela política, fico com o coração cheio de alegria e de gratidão. Como diz o ditado lá do sertão: “Quem planta amizade, colhe companheiro.”
E, por falar em companheiro, não dá pra esquecer que hoje também é o dia em que o Brasil perdeu um dos seus maiores — Carlos Marighella, assassinado em 4 de novembro de 1969.
Marighella foi outro filho da Bahia, mas daqueles que pertencem a todo o Brasil. Poeta, guerrilheiro, homem de fé na humanidade. Era o tipo que não se escondia atrás de palavras: acreditava que liberdade não se pede — se conquista.
Pagou com a vida o preço de sonhar grande demais para o gosto dos poderosos. Mas o curioso é que o fogo que o matou não apagou a chama. Pelo contrário: espalhou brasa. Hoje, essa chama arde nos corações que, como o de Joelnir, continuam acreditando que o povo tem vez e voz.
Pois é, meu amigo, a vida é assim: uns semeiam, outros colhem, e o importante é manter o roçado da esperança sempre verde. Hoje o dia é seu, Joelnir — mas também é de todos os que, como Marighella, não se rendem.
Parabéns, meu companheiro. Que o menino de Terra Branca siga firme, com os pés no chão e os olhos no horizonte. Porque o sertão ainda vai virar mar — e o mar, um dia, ainda há de virar justiça.
Josias Gomes Deputado Federal do PT/Bahia
Vice-líder do PT na Câmara
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