Visita ao Conjunto Penal de Itabuna

Visitei ontem o Conjunto Penal de Itabuna para conhecer o trabalho social desenvolvido pela Socializa, empresa responsável pela administração do conjunto penal. Vou começar a falar da visita pelo final, pois não restam dúvidas de que o quibe servido no lanche, preparado pela companheira Franciele, tem realmente um sabor especial. Mais uma vez, minha companheira, muito obrigado pela gentileza de ter nos presenteado com essa delícia da culinária árabe.

O trabalho da Socializa é muito importante para a dignidade de quem está cumprindo uma pena. A relação entre os educadores e os apenados passa longe de ser uma relação seca, sem emoção. Ao contrário, enxerguei carinho mútuo, profissionalismo, uma interação cujo resultado, embora os detentos estejam privados de suas liberdades, possuem a autoestima elevada. Todos esses fatores comprovam a eficácia do belo trabalho humano e multidisciplinar realizado pela Socializa e Governo do Estado no conjunto prisional. A parceria cumpre de fato a sua função primordial do sistema prisional: a ressocialização de seres humanos.

Existem várias opções de trabalho profissional no artesanato, corte e costura, salão de beleza, além de atividades lúdicas, esportes, jogos xadrez, artes. Fiquei encantado com os dois músicos; inclusive, um rapaz já compôs, no presídio, aproximadamente 160 letras. Seu acompanhante já fez campanha para mim em Ilhéus. São bons compositores, com métrica perfeita, embora talvez precisem treinar mais na voz. Em todas as atividades, há a redução de penas, algo muito importante para eles e que estimula as boas práticas no convívio diário. Na visita, encontrei um amigo de Ilhéus. É sempre bom destacar que ninguém está imune a ter que cumprir uma pena; os motivos são os mais variados. Por trás de todo apenado existe uma história de vida, familiares, amigos.

Rute Praxedes é um caso à parte. Quando cheguei no setor, melhor dizendo, na área externa, estavam reunidos numa roda de conversa uns quinze jovens, discutindo um conto de Machado de Assis que trata sobre a escravidão. A mulher negra e professora Rute tem sido uma importante incentivadora para aqueles jovens se tornarem leitores vorazes. Basta ouvir o depoimento de um deles sobre o despertar pela leitura. Essa experiência da visita foi fascinante. Importante destacar que a biblioteca foi reabastecida com novos exemplares de livros físicos; já são mais de quinhentos internos que leem com frequência, além do Kindle a que têm acesso.

Na educação escolar, atualmente, tem mais de 67% dos internos, divididos entre os provisórios, regime fechado e semiaberto, matriculados. O número é significativo e me enche de esperança na recuperação dos internos. Já que a educação tem o poder de abrir novas portas para estas pessoas na reinserção junto à sociedade. Temos o exemplo de Rui Barbosa, ex-detento que se formou em Direito e hoje trabalha na própria Socializa. Conforme eu tinha anunciado, o conheci pessoalmente. Aí sim, o Rui Barbosa é um cara espetacular, calmo, de um olhar compenetrado, estudioso.

Fui indo na conversa, como quem não quer e querendo, veio logo desafiar meus conhecimentos bíblicos, falou do rei Josias, da sua importância em Jerusalém. Eu então perguntei uma das principais obras realizadas durante seu reinado; ele olhou, virou para lá e para cá, até que eu resolvi anunciar. Mas ele mais adiante na conversa me pegou de jeito, rsrs. Fico muito feliz por ti, Rui Barbosa; o seu exemplo nos mostra que jamais devemos desistir das pessoas.

Outro diferencial da Socializa são os internos que fazem trabalhos remunerados; são 30 atualmente. Eles fazem fardamentos para os próprios presídios, além de produzir para demais unidades prisionais. Essa é uma questão que precisa ser melhor compreendida pelo empresariado. A contratação de mão de obra de apenados cumpre um importante papel na ressocialização deles e, ao mesmo tempo, traz a contrapartida laboral de excelente qualidade.

Enfim, meus companheiros e minhas companheiras, foi uma experiência enriquecedora que recomendo. Este é um trabalho para ser conhecido, replicado, porque é uma obra-prima sobre o enfrentamento de uma importante questão humanitária, para usar uma palavra tão em uso atualmente. A ressocialização dos presos diz respeito a todo cidadão. Afinal, quanto mais seres humanos conseguirmos reintegrar à sociedade, mais próximos estaremos de um país civilizado e humano.

Aos profissionais da Socializa, professores, pedagogos, psicólogos, assistentes sociais, serviços gerais, meus agradecimentos pela forma como fui recebido e o meu reconhecimento de que vocês estão fazendo história, numa área muito pouco conhecida e reconhecida pela sociedade. Parabenizo o Governo do Estado, a Secretaria de Administração Penitenciária e todos os membros da Socializa por este projeto inovador e vitorioso que faz de Itabuna uma referência em ressocialização na Bahia.

Josias Gomes – Deputado Federal do PT/Bahia

Vice-líder do PT na Câmara

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