
Wilson Aragão: a poesia do sertão que virou canção
“Num planto capim-guiné / Prá boi abaná rabo / Eu tô virado no Diabo, eu tô retado cum você / Tá vendo tudo e fica aí parado / Com cara de veado que viu caxinguelê”.
Quem ouve esses versos talvez ache graça, mas quem conhece a alma do sertão sabe: ali está condensada a filosofia de um povo inteiro. É dessa lavra bruta e sensível que brota a poesia de Wilson Aragão, poeta, compositor e cantor nascido em Piritiba, na Bahia, no coração do semiárido, onde o sol queima a pele e também acende a alma de quem resiste.
Wilson Aragão é daqueles artistas que não se separam da sua origem. Como árvore de raiz profunda e fértil, foi beber nas águas da sabedoria do sertão nordestino para compor uma obra que encanta e inquieta, com humor, crítica e beleza. É desse barro que nasceram músicas gravadas por gente como Raul Seixas, Tânia Alves, Zé Ramalho e tantos outros que reconheceram a força de sua canção.
Wilson Aragão como filho do sertão, dizia com orgulho de onde vinha. Escutava Luiz Gonzaga, Nelson Gonçalves, Jackson do Pandeiro, e deste altar cultural, moldava seu jeito de ver o mundo. Ele sabia que cantar o sertão era cantar o Brasil profundo, o Brasil esquecido — mas também o Brasil que resiste.
Tive o privilégio de conhecer Wilson Aragão, de conversar com ele sobre música, política, poesia e sobre esse povo sertanejo que ele nunca deixou de defender. Wilson era — e sempre será — homem de posição. Viveu tempos difíceis, tempos de medo e censura, mas nunca se calou. Nunca mudou de lado. Seguiu cantando e encantando, com a firmeza de quem sabe onde pisa e com a doçura de quem transforma dor em arte.
Recordo com carinho de uma passagem em Itabuna, onde morei por um bom tempo. Uma diretora da CUT, vinda de São Paulo, estava em minha casa. Coloquei para tocar um CD de Wilson Aragão. Ela escutou os primeiros acordes, os primeiros versos e se apaixonou. Conhecia algumas daquelas músicas, mas nunca as tinha ouvido daquela forma, com aquela força. Presenteei-a com o CD. Ela levou para São Paulo como se levasse um pedaço da alma do Brasil.
É isso que Wilson Aragão representa: uma alma sertaneja que virou canto, uma consciência política que virou poesia, um coração baiano que virou Brasil.
Que sua obra continue tocando corações, provocando mentes e dizendo, com a força da música, que o sertão também é centro, que o povo simples também é poesia — e que a arte, quando nasce do chão, nunca morre. Obrigado, por tudo Wilson Aragão! A nação sertaneja está de luto, mas com o máximo orgulho da sua vida e obra.
Josias Gomes
Deputado Federal (PT/BA)
Vice-líder do PT na Câmara
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