
Um motim vergonhoso na Câmara: bolsonarismo não é oposição, é sabotagem
Um motim vergonhoso na Câmara: bolsonarismo não é oposição, é sabotagem
Em duas décadas de atuação na Câmara dos Deputados, jamais presenciei um episódio tão lamentável quanto o ocorrido ontem. O que vimos não foi uma cena de obstrução parlamentar legítima, como preveem as regras democráticas, mas, sim, um verdadeiro motim protagonizado por deputados bolsonaristas — um ataque ao Regimento Interno, à ordem institucional e à própria dignidade do Parlamento brasileiro.
A sessão, que deveria seguir seu curso regular, foi tomada por uma balbúrdia ensaiada, marcada por gritos, provocações e desrespeito. O presidente da Casa, Hugo Motta, estava mais perdido que cebola em salada de fruta, visivelmente sem comando diante da truculência de um grupo que não tem qualquer compromisso com o debate, muito menos com a democracia. Trata-se de um comportamento reiterado de quem prefere o caos à convivência plural.
A situação política na Câmara está de vaca desconhecer bezerro — um cenário de confusão generalizada, onde quem deveria zelar pelo regimento, na verdade, alimenta a desordem. O Parlamento virou arena de quem quer berrar mais alto, não de quem tem argumentos.
Em meio ao tumulto, cenas grotescas: a deputada Júlia Zanatta (PL-SC) empunhou seu próprio bebê de quatro meses como escudo político, instrumentalizando a maternidade para tentar inibir a ação da segurança da Casa. Um gesto inaceitável que revela o grau de desespero e irresponsabilidade com que parte da extrema direita atua.
É inaceitável que a Câmara dos Deputados, que já abrigou grandes líderes como Ulysses Guimarães, Tancredo Neves e o próprio Lula — homens que divergiam entre si, mas sempre respeitaram as instituições — seja palco de atitudes tão antidemocráticas. Não se trata apenas de divergência de ideias, mas de sabotagem deliberada ao funcionamento do Parlamento.
É importante deixar claro: os bolsonaristas não representam a direita brasileira. Politicamente falando, estão a anos-luz do que seria uma oposição conservadora séria e responsável. São poucos, pouquíssimos, os deputados bolsonaristas que têm noção do que seja atuar como parlamentar de direita. A maioria se move pela lógica da agitação, do confronto estéril, da fake news e do golpismo latente.
A democracia exige responsabilidade. Divergência é saudável, faz parte do jogo democrático. O que não se pode admitir é a farsa política travestida de protesto, a manipulação das instituições, o desrespeito às normas que garantem o funcionamento da Casa do Povo.
Ontem, não foi a oposição que se manifestou. O que vimos foi um grupo de arruaceiros tentando transformar o plenário da Câmara em palanque de desordem. O Brasil precisa de debate qualificado, não de espetáculo deprimente.
Josias Gomes
Deputado Federal (PT/BA)
Vice-líder do PT na Câmara
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